SÍNTESE "DESIGUALDADE, DIFERENÇA E ARTICULAÇÃO" - SERGIO COSTA



     Vocês piscam e o PET Práxis finaliza a leitura e o debate acerca da obra "Pedagogia do Compromisso: América Latina e Educação Popular" de Paulo Freire e, para além disso, compartilha a sua sistematização (relembre aqui). Um sucinto entreabrir de olhos e o PET Práxis inaugurou um novo bloco de discussões, através da temática "Diferença e Desigualdade Social" (relembre aqui). Uma breve distração e a obra "Subcidadania Brasileira: para entender o país além do jeitinho brasileiro" de Jessé Souza é o novo ponto de pauta (relembre aqui). Vocês já devem estar cansadas e cansados, mas eu prometo que é a última vez: um derradeiro pestanejar e uma última novidade: síntese dos conceitos preliminares de "Desigualdade, diferença e articulação" - Sergio Costa - pelas mãos habilidosas da petiana Ana Paula.

 Desigualdade, Diferença, Articulação

Ana Paula Bertuol Rebelatto[1] 

O eixo que será dialogado aqui oportuniza discussões de aspectos extremamente significativos no que se refere aos processos de formulação, implementação e avaliação do significado de diferença, desigualdade e suas articulações. Vivemos em sociedades desiguais e diferenciadas. De forma mais geral, o contexto da vida humana é a percepção crescente dessa condição. De fato, tem se intensificado a percepção dos deslocamentos que, muitas vezes danosos, podem se dar entre os conceitos de desigualdade e diferença. É urgente perceber em escala ampliada a desigualdade e a diferença, no local e no mundo, e os entrelaçamentos e deslocamentos entre essas duas instâncias.
Posto isso, é importante ressaltar que a ampla maioria das sociedades historicamente conhecidas, foram e continuam a ser constituídas por sociedades em que a maior parte de seus habitantes precisa, simultaneamente, resistir às desigualdades sociais e lutar pelo direito de afirmar suas diferenças, por mais variados que sejam os mecanismos priorizados para a instituição desses grupos, tais como os fatores econômicos que regem as sociedades capitalistas.
Quando o assunto da desigualdade em uma sociedade capitalista é posto em questão, o primeiro aspecto que vem à mente é o das desigualdades econômicas que evocam as noções de pobreza e riqueza. No entanto, pode ser posto em pauta o que se refere às oportunidades desiguais de trabalho, ao acesso desigual à educação e à cultura, às hierarquias de diversos tipos, nos preconceitos, opressões e, particularmente, ao tratamento desigual para grupos diferenciados. Aliás, esse último aspecto permite que se perceba muito intensamente que existe uma conexão possível, embora não necessária, entre o mundo da diferença e o mundo da desigualdade.
É oportuno acrescentar a esta discussão outro ponto importante, que pode ser mal compreendido. As desigualdades são sempre circunstanciais e históricas, mas isso não quer dizer que as diferenças também não sejam construções históricas. É compreensível que as diferenças são construções históricas e sociais de duas maneiras: por um lado, existe uma construção social “externa” das diferenças; por outro, existe uma construção social “interna” dessas mesmas diferenças. A sociedade decide, nessa construção externa, que diferenças serão consideradas relevantes para compor o quadro mais geral das diferenças socialmente percebidas. Ao mesmo tempo, cada uma das diferenças também é construída internamente considerando diversas perspectivas, e essa construção é constantemente reatualizada. Ainda que existam diferenças compreendidas como naturais, é importante ter em vista que, na maior parte das situações, a própria seleção social daquilo que será destacado como diferença é também um produto histórico, mesmo no que se refere aos chamados aspectos naturais.
No que se refere às articulações desses dois conceitos aqui abordados, a discussão se dá com a desigualdade social, que se refere a uma situação socioeconômica, não necessária para a apropriação ou o desvio privado de bens, recursos e recompensas, envolvendo posições sociais individuais, que geram a desigualdade vertical. Essa refere-se a desigualdades nas dimensões econômica, social ou política entre duas pessoas, ou seja, as distâncias entre indivíduos dentro de uma estrutura social considerando diversas variáveis, como renda, riqueza. Por outro lado, também existe o que é chamado de desigualdade horizontal, a qual se refere a desigualdades nas dimensões econômica, social ou política e no status cultural entre grupos culturalmente definidos, ou seja, as distâncias sociais entre grupos de indivíduos. A desigualdade horizontal tende a gerar conflitos e violência social; o papel que esse tipo de desigualdade desempenha no funcionamento da sociedade constitui uma dimensão negligenciada sobre o desenvolvimento econômico.
Tomando como parâmetro o critério de gênero, é possível identificar que os limites impostos ao exercício da cidadania atingem mais fortemente as mulheres, se agravando conforme seu pertencimento a determinadas classes, raças, etnias, regiões e idades. As mulheres continuam sendo discriminadas também no chamado espaço público. Uma grande parte ainda desconhece seus direitos civis e assume integralmente as tarefas domésticas, continuando a ganhar menos do que os homens. Ressaltando também a gravidade do quadro de discriminação e violência, em suas diferentes formas. Em relação à política de saúde, ainda não se alcançou a universalidade, a integralidade e a equidade, tampouco se consideram as diversidades, especificidades e particularidades da população feminina.
A discussão sobre esses dois conceitos e suas possibilidades de relações é uma demanda muito importante. Compreender aquilo que distingue desigualdade e diferença é também de extrema relevância. Desigualdade e diferença não são noções, necessariamente interdependentes, embora possam conservar relações bem definidas no interior de certos sistemas sociais e políticos. Habitamos um planeta recheado de recursos do nosso interesse e as relações entre esses dois conceitos emergem como um verdadeiro campo de estudos, chamando e gritando por conceitos e metodologias próprias.

[1] Acadêmica do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) campus Erechim e bolsista do Grupo Práxis – PET Conexões de Saberes.

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