The Man in the High Castle - O Homem do Castelo Alto
The Man in the High Castle - O
homem do castelo alto
Kerolin Kalinka Iung [1]
A
série de televisão da Amazon Prime é baseada no livro de mesmo nome, do autor
Philip K. Dick (1962). A proposta do autor visa refletir acerca de um cenário
ficcional onde, ao contrário do que conhecemos, a ordem mundial teria sido
reestruturada a partir da vitória dos países componentes do Eixo na Segunda
Guerra Mundial. Poderia se restringir a isso, mas o autor adentra a narrativa sci-fi ao se utilizar de teorias da
física sobre a provável possibilidade de realidades múltiplas coexistentes.
Tanto
o livro, quanto a série proporcionam ao leitor(a)/espectador(a) a possibilidade
de pensar seu contexto atual, formas de resistência e adesão extremamente
contemporâneas a partir de uma narrativa que ao fim e ao cabo considera as
divisões em “bolhas” das sociedades em que vivemos.
A
história começa em 1962, logo no primeiro episódio percebe-se algo diferente,
que não condiz com nossa realidade. O Eixo ganhou a Segunda Guerra, os Estados
Unidos da América - agora está
tripartido entre as grandes potências mundiais, Alemanha e Japão e uma Zona
Neutra. Sob o domínio japonês, Estados Americanos do Pacífico e sob o domínio
alemão, um território extensivo ao III Reich. A Zona Neutra representa na
história um limbo, um refúgio, onde todos e todas que são perseguidos e
perseguidas pelos regimes autoritários e fascistas buscam a sobrevivência. O
autor discorre sobre um contexto em que pessoas judias estão praticamente
extintas e as que ainda existem se escondem; pessoas negras foram em sua
maioria escravizadas, não apenas nos Estados do Pacífico, mas todo o continente
africano - escravizado por nazistas e pelo Japão.
A
trama da série se baseia em como as pessoas se adaptaram, rapidamente, ao
regime nazista, aculturando-se ao preconizado pelo nazismo, respeitando leis e
regras alemãs e seguindo, nos Estados do Pacífico aos costumes japoneses, evidentes
demarcadores de classe e status
social. Contudo, o enredo situa-se na configuração de uma disputa global de
poder entre Japão e Alemanha diante da iminente morte do fürher, Adolf
Hitler. Ou seja, diante da decadência da maior liderança política e carismática
desta distopia pós-guerra, as nações centrais procurarão, através de
conspirações e estratagemas, ascender à condição de dominante.
Em
meio a esse cenário de tensão entre Alemanha e Japão, surgem filmes que fazem
com que Hitler, bem como todo o ideário nazista, sinta-se extremamente ameaçado
por este tipo de conteúdo. Inicia-se, assim, uma caça pelos filmes que mostram
o que seria o mundo se o desfecho da Segunda Guerra tivesse se dado de outra
forma, em que a Aliança vence a Segunda Guerra. Os filmes que mais demonstram
uma realidade de liberdade, também têm a função de ligar as personagens da
trama, nazistas, japoneses e os grupos de resistência.
O
homem do castelo alto, como é conhecido Hawthorne Abendsen, é quem troca
informações com a resistência por meio desses filmes - os quais têm como
particularidade - não ser apenas uma produção cinematográfica, mas uma
cobertura jornalística do fim da guerra. A partir desses filmes, as personagens
começam a questionar a existência de outros universos e a forma como esses
filmes chegaram até aquela realidade. Assim, descobre-se a existência de
pessoas capazes de viajar entre as realidades que existem simultaneamente, e
como a vida de uma pessoa pode ter diversos desfechos, assim como suas
personalidades podem mudar de uma realidade para outra.
Uma
trama bem construída sobre as disputas de poder interno entre nazistas, assim
como a tentativa de exterminar com a resistência, que por sua vez têm, também, diversas
disputas internas. Apresenta uma série de personagens bem desenvolvidas,
fugindo da caricatura clássica de nazistas cruéis e terríveis, pois,
socialmente e aparentemente concordam com o regime nazista por medo. Ou seja,
essa sociedade se sustenta, principalmente, pelo medo imposto a todas as
pessoas - e nem todas, que carregam a suástica, são, por si, só a favor do
fascismo.
Nesse
sentido, além da resistência já existente, escondida, subterrânea, surgem outras
resistências, mostrando, de forma mais evidente, a resistência judaica, na zona
neutra - que é um território sem lei, sob o qual nenhum governo tem poder, ao
mesmo tempo território de ninguém - onde existem infiltrados nazistas
procurando judeus e pessoas que estão sendo caçadas fora da zona neutra com
aval para matar e torturar quem for necessário. Assim, a zona neutra se
apresenta como um lugar de refúgio e, ao mesmo tempo, de cuidado e cautela -
assim como a resistência negra no território pertencente ao Japão.
A
aliança entre essas formas de resistências organiza diversos ataques
simultâneos, tanto ao poder nazista quanto ao poder japonês - que respondem com
retaliações. Como exemplo: a revolta em
massa das câmaras de gás e dos campos de concentração, como medida para deter o
avanço da resistência e conter a onda de revoltas contra o fascismo; e a
restrição de liberdades, medidas essas que têm o nome de Operação Cruz e Fogo:
Pacificação e Purificação. Além do objetivo citado acima, têm como foco
principal a exterminação de todos e todas que não são “puros/puras”, os únicos
que devem restar depois dessas medidas são arianos/arianas e japoneses/japonesas.
Os
ataques desferidos aos poderes, são de fundamental importância para destruir o
governo fascista, tendo em vista que em determinado momento - desenvolvem
tecnologia que permite a viagem entre universos, até mesmo, das pessoas que não
tem o dom natural. Com essa tecnologia em mãos nazistas, expandem-se os planos
de erradicação de populações inteiras, não mais para apenas uma realidade, mas
para todas as realidades existentes. Por fim, a resistência obtém sucesso, e, o
mundo que um dia foi de opressão e injustiças tremendas -torna-se um lugar de novas possibilidades, de reconstrução.
Considerações finais
O que torna a série, realmente, terrível, além
das diversas cenas de torturas e opressões - é o fato de nos pôr a pensar sobre
as relações de opressão de nossa realidade, e como algumas são, amedrontadoramente,
semelhantes. A série consegue despertar diversos sentimentos no espectador/ na
espectadora - perpassando desde o ódio, o medo, a raiva, a revolta, a indignação
- à esperança, à vontade de mudança, não só na ficção, mas também, nos provoca a
trazer tais sentimentos ao mundo real.
Portanto, a possibilidade de recomeço, mesmo
em um ambiente absurdamente repressivo - a manutenção da esperança e da utopia
tornam-se fundamentais no decorrer do programa. Recomenda-se que o espectador e
a espectadora acompanhem a série - p a u s a d a m e n te - pois ela consegue
abalar muitas estruturas psicológicas.
Ótimo análise
ResponderExcluirGostei do texto. Parabéns
ResponderExcluirNossa, q explanação perfeita a respeito da série. A série é realmente fantástica! Estou amando!
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