Coisas Frívolas
Coisas Frívolas
Alex Santos [1]
Adoniram acordou com charme e
elegância. Ele não saberia o que poderia acontecer naquele dia, mas o sol
nasceu forte. Tipo aqueles sóis de filmes que, provavelmente, Hollywood não
daria verbas para fazer. Adoniram, o homem com um belo dia pela frente e nenhum
empecilho em sua volta, simplesmente sorri. Seu sorriso se mostra áureo e seus
dentes insuficientemente abertos, ainda assim, ele tinha uma barba e um cabelo
fúcsia. Morava em um apartamento de dois cômodos e nunca pensou em usar drogas,
fumava intensamente e se viciou em clonazepam.
O céu estava azul, pássaros
cantavam e quem sabe um pinguim estava nadando em algum mar gelado ou só no
zoológico da esquina mesmo. Adoniram, com sua elegância, começou a andar pela
calçada em frente à sua casa, estabeleceu um pensamento que as flores são um
esmero do amor, possivelmente, uma aflição da realidade social que traduz o
amor. Ele deu uma volta no quarteirão, chegou a um bar pouco movimentado, havia
15 pessoas e apenas 3 nos interessavam, Adoniram, cujo dia foi perfeito,
Valentina e Mayra.
Mayra foi a mulher mais sensível que a vida já conheceu, a vida até levou ela
embora, na real ela decidiu se matar por que as coisas do seu cotidiano estavam
a torturando, você sabe, quando as coisas que você mais ama realizar começa a
não fazer sentido, parece que o sentido da existência se perde na imensidão do
universo, e a vida fica muito deprimente. No bar, um dia antes de se matar,
Mayra conheceu Adoniram, Adoniram por sua vez conhecia Valentina que, não
conhecia Mayra.
Valentina desadormeceu estressada. A noite anterior foi um desgosto, ela queria
ter transado, mas os homens de hoje não são dignos de tocá-la. Ela pensou
diversas vezes que poderia ser lésbica, possivelmente, ela sabia que não se
escolhe sexualidade. Ela pegou seu fone, sempre ficava ao lado da cama,
levantou, colocou o fone, foi até sua bolsa e pegou ecstasy. Havia 4
comprimidos, jogou dois diretos na garganta, esperou uma hora, colocou a música
Portal Do Universo e começou a fritar:
(...)
“Anda por cima das
águas da vida
Mas cega à luz
Quando os três reis
Indicarem a estrela
O Sol entre a espada e a cruz
O segredo divino
É a virgem do hino a mãe do menino
Que seja bem-vindo
Que guia o povo
Ateus vão pro fogo
E a vida trazem de novo
Mas cega à luz
Quando os três reis
Indicarem a estrela
O Sol entre a espada e a cruz
O segredo divino
É a virgem do hino a mãe do menino
Que seja bem-vindo
Que guia o povo
Ateus vão pro fogo
E a vida trazem de novo
A profecia exerce
incontestável o seu papel”
O ecstasy quando ingerido
deixa o mundo belo, as coisas com sentido, a existência atraente e as demais
pessoas amáveis. Abraços fazem sentido e a natureza quer te dizer algo, quer
dizer que você está sobre efeito pesado de anfetamina, seu cérebro no limite,
produzindo as melhores serotoninas e dopamina que um dia você já sentiu.
Valentina acordou ansiosa, estressada e agora estava dançando e cogitando a
ideia de adotar um cachorro. Ela não gostava de gatos, gatos são cruéis e ela
sabia muito bem disso.
Dançar cansa e Valentina
parou, olhou ao redor - as cores estavam mágicas e a música no fone não parou.
Foi ao banheiro, se arrumou e foi ao bar. O caminho até lá foi bem lento e
gostoso, as árvores balançavam, os pássaros cantavam e a imensidão azul do céu
tomou conta daquele imenso coração. Ela chegou no bar, sentou e ficou a espera
de Adoniram. A anfetamina tem o imenso poder de fazer você ficar socializável.
Havia uma moça sentada no balcão, bela e cheia de afeto a dar. Valentina sentiu
uma energia tranquila e sublime, chegou ao balcão e começou a falar:
- Você sabe que a natureza tem energias?
- Não sabia! Na real, não boto fé nessas coisas,
não. Respondeu Mayra assustada com o tamanho da pupila daquela moça.
- Deveria acreditar! A natureza é a mãe de todas e
todos. Explicou Valentina com sua voz doce.
- Se me permites uma dúvida, por que suas pupilas
estão imensas? Questionou Mayra com sua voz um pouca insegura.
- É ecstasy, tu queres um? Eu tenho!
Valentina e suas pupilas deslumbrantes pareciam estar no apogeu do sentimento
mais real que sentiu.
Mayra não aceitou, talvez, se ela
aceitasse a vida dela mudaria muito. Adoniram chegou, viu Valentina e pensou,
“estou em um bar sozinho, meu ciclo social aqui é nulo, vou grudar na única
pessoa que eu conheço.”. Chegou em Valentina, riu, pois percebeu a quão louca
estava a sua amiga. Sentou-se ao lado dela, cumprimentou Mayra. Mayra respondeu
o cumprimento e se perguntava por que aqueles estavam ali. Provavelmente, Mayra
e Adoniram pensavam a mesma coisa. Possivelmente, aquilo foi risível para
alguém, aleatório, das 12 pessoas que estavam no bar, fazendo qualquer coisa
que poderíamos chamar de frívolas.
[1] Acadêmico do curso de Licenciatura em Filosofia
da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) campus Erechim e
bolsista do Grupo Práxis – PET Conexões de Saberes. E-mail: alexdossantos123456789@gmail.com
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