Coisas Frívolas



Coisas Frívolas

Adoniram acordou com charme e elegância. Ele não saberia o que poderia acontecer naquele dia, mas o sol nasceu forte. Tipo aqueles sóis de filmes que, provavelmente, Hollywood não daria verbas para fazer. Adoniram, o homem com um belo dia pela frente e nenhum empecilho em sua volta, simplesmente sorri. Seu sorriso se mostra áureo e seus dentes insuficientemente abertos, ainda assim, ele tinha uma barba e um cabelo fúcsia. Morava em um apartamento de dois cômodos e nunca pensou em usar drogas, fumava intensamente e se viciou em clonazepam.
O céu estava azul, pássaros cantavam e quem sabe um pinguim estava nadando em algum mar gelado ou só no zoológico da esquina mesmo. Adoniram, com sua elegância, começou a andar pela calçada em frente à sua casa, estabeleceu um pensamento que as flores são um esmero do amor, possivelmente, uma aflição da realidade social que traduz o amor. Ele deu uma volta no quarteirão, chegou a um bar pouco movimentado, havia 15 pessoas e apenas 3 nos interessavam, Adoniram, cujo dia foi perfeito, Valentina e Mayra.
          Mayra foi a mulher mais sensível que a vida já conheceu, a vida até levou ela embora, na real ela decidiu se matar por que as coisas do seu cotidiano estavam a torturando, você sabe, quando as coisas que você mais ama realizar começa a não fazer sentido, parece que o sentido da existência se perde na imensidão do universo, e a vida fica muito deprimente. No bar, um dia antes de se matar, Mayra conheceu Adoniram, Adoniram por sua vez conhecia Valentina que, não conhecia Mayra.
          Valentina desadormeceu estressada. A noite anterior foi um desgosto, ela queria ter transado, mas os homens de hoje não são dignos de tocá-la. Ela pensou diversas vezes que poderia ser lésbica, possivelmente, ela sabia que não se escolhe sexualidade.  Ela pegou seu fone, sempre ficava ao lado da cama, levantou, colocou o fone, foi até sua bolsa e pegou ecstasy. Havia 4 comprimidos, jogou dois diretos na garganta, esperou uma hora, colocou a música Portal Do Universo e começou a fritar:

(...)
“Anda por cima das águas da vida
Mas cega à luz
Quando os três reis
Indicarem a estrela
O Sol entre a espada e a cruz
O segredo divino
É a virgem do hino a mãe do menino
Que seja bem-vindo
Que guia o povo
Ateus vão pro fogo
E a vida trazem de novo
A profecia exerce
incontestável o seu papel”

O ecstasy quando ingerido deixa o mundo belo, as coisas com sentido, a existência atraente e as demais pessoas amáveis. Abraços fazem sentido e a natureza quer te dizer algo, quer dizer que você está sobre efeito pesado de anfetamina, seu cérebro no limite, produzindo as melhores serotoninas e dopamina que um dia você já sentiu. Valentina acordou ansiosa, estressada e agora estava dançando e cogitando a ideia de adotar um cachorro. Ela não gostava de gatos, gatos são cruéis e ela sabia muito bem disso.
 Dançar cansa e Valentina parou, olhou ao redor - as cores estavam mágicas e a música no fone não parou. Foi ao banheiro, se arrumou e foi ao bar. O caminho até lá foi bem lento e gostoso, as árvores balançavam, os pássaros cantavam e a imensidão azul do céu tomou conta daquele imenso coração. Ela chegou no bar, sentou e ficou a espera de Adoniram. A anfetamina tem o imenso poder de fazer você ficar socializável. Havia uma moça sentada no balcão, bela e cheia de afeto a dar. Valentina sentiu uma energia tranquila e sublime, chegou ao balcão e começou a falar:
- Você sabe que a natureza tem energias?
- Não sabia! Na real, não boto fé nessas coisas, não. Respondeu Mayra assustada com o tamanho da pupila daquela moça.
- Deveria acreditar! A natureza é a mãe de todas e todos. Explicou Valentina com sua voz doce.
- Se me permites uma dúvida, por que suas pupilas estão imensas? Questionou Mayra com sua voz um pouca insegura.
- É ecstasy, tu queres um? Eu tenho! Valentina e suas pupilas deslumbrantes pareciam estar no apogeu do sentimento mais real que sentiu.
Mayra não aceitou, talvez, se ela aceitasse a vida dela mudaria muito. Adoniram chegou, viu Valentina e pensou, “estou em um bar sozinho, meu ciclo social aqui é nulo, vou grudar na única pessoa que eu conheço.”. Chegou em Valentina, riu, pois percebeu a quão louca estava a sua amiga. Sentou-se ao lado dela, cumprimentou Mayra. Mayra respondeu o cumprimento e se perguntava por que aqueles estavam ali. Provavelmente, Mayra e Adoniram pensavam a mesma coisa. Possivelmente, aquilo foi risível para alguém, aleatório, das 12 pessoas que estavam no bar, fazendo qualquer coisa que poderíamos chamar de frívolas.



[1] Acadêmico do curso de Licenciatura em Filosofia da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) campus Erechim e bolsista do Grupo Práxis – PET Conexões de Saberes. E-mail: alexdossantos123456789@gmail.com

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