Síntese "Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências"








UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL (UFFS)
 CAMPUS ERECHIM 


GRUPO PRÁXIS - PET CONEXÕES DE SABERES/LICENCIATURAS 








SÍNTESE "PARA UMA SOCIOLOGIA DAS AUSÊNCIAS E UMA SOCIOLOGIA DAS EMERGÊNCIAS"

BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS








ERECHIM
2019

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SANTOS, B. de S. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 63, p. 237-280, 2002. 


1. INTRODUÇÃO
Paulo Alberto Duarte Junior

       Boaventura de Sousa Santos é um autor português, nascido em 1940. Sua trajetória não é pequena e possui vasta obra publicada. De forma breve, o autor fez direito; militou pela igreja católica em Portugal; viveu o contexto de ditadura militar no mesmo país; presenciou o socialismo real na Alemanha Ocidental nos anos 60; acompanhou o processo de descolonização das colônias portuguesas na África. Sua grande virada para uma radicalização epistemológica acontece quando vem ao Brasil visitar a favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. 

       O sociólogo português está comprometido com a práxis social, prática voltada aos movimentos sociais, nos seus mais diferentes formatos e desenhos, além do enfrentamento às diferentes formas de dominação, opressão e discriminação. A ciência, para o autor, é uma forma de conhecimento e prática social, de uma ciência empenhada com a emancipação. Com isso, Boaventura faz uma crítica à modernidade, ao capitalismo, ao colonialismo e à colonialidade (étnico, de gênero, religioso e etc.), a partir dos resquícios que continuam a marcar corpos e mentes. Boaventura argumenta que para romper a dominação e a opressão, usa-se da Sociologia das Ausências e da Sociologia das Emergências. O primeiro conceito remete a ampliar e expandir o domínio de experiências sociais já disponíveis; o segundo faz referência à expansão do domínio das experiências sociais possíveis, quanto mais experiências disponíveis, mais experiências seriam possíveis no futuro. 

       Boaventura vê no Brasil, Moçambique, África do Sul, Colômbia, Índia e Portugal movimentos intensos contra-hegemônicos: democracia participativa, produção alternativa, multiculturalismo, direitos coletivos e cidadania cultural, que estão fora dos centros hegemônicos de produção; a interação cultural e o conhecimento, o conhecimento científico e não científico; projetos, lutas, locais periféricos que quase ninguém enxerga ou acredita na sua potencialidade. Portanto, a compreensão do mundo vai além do entendimento ocidental. A proposta de Boaventura de Sousa Santos é  a expansão do presente e a contração do futuro, com o intuito de conhecer e valorizar outras experiências sociais, visto que, “Outros saberes, não científicos nem filosóficos, e, sobretudo, os saberes não ocidentais, continuam até hoje em grande medida fora do debate.” (SANTOS, 2002, p. 241).


2. A CRÍTICA DA RAZÃO METONÍMICA 

André Luis Lira Lemos, Jenifer Aguiar

Para Boaventura de Sousa Santos, o mundo ocidental é caracterizado por formas de dominação, sistemas desiguais e sistemas de exclusão. O conhecimento e o saber cientificista ocidental se solidificam a partir do predomínio hegemônico do poder, deslegitimando qualquer outra forma de conhecimento. Desse modo, Santos propõe pensar essas formas de dominação, como também outras possibilidades frente a essas estruturas cristalizadas, uma razão cosmopolita, como conceitua o autor, uma autocrítica aos fundamentos e conceitos epistêmicos, horizontalizando um viés de crítica social, que se comprometa com a emancipação, novas formas de se enxergar o mundo.

           A razão do mundo ocidental, a partir da viabilidade dos sistemas de dominação, fortificou dentro do poder hegemônico princípios de desigualdade e exclusão, construindo a razão indolente, que hegemonizou um saber e excluiu outros. Assim, dentro da razão indolente, o sociólogo português apresenta quatro conceitos que perpetuam esse sistema hegemônico epistêmico: razão impotente, razão arrogante, razão metonímica e razão proléptica - as últimas duas são razões que justificam seu olhar hegemônico sobre uma totalidade que exclui as partes. No tópico, “A crítica da razão metonímica”, Boaventura busca destrinchar o significado desse posicionamento e busca soluções para que o mundo ocidental possa abranger novas visões, temporais, racionais e existenciais de um mundo vasto de conhecimentos.
A primeira crítica feita pelo autor é a visão de totalidade, a partir da qual a razão metonímica não abrange outras experiências, descartando outras perspectivas e deliberando a partir de uma visão homogênea. Nessa conjuntura, a razão metonímica significa o mundo a partir de uma particularidade do cosmo, isto é, o ocidente se reivindica como universal, como espaço que abrange a totalidade, quando na verdade é uma realidade singular, negando e perdendo conhecimentos e experiências outras. Assim, a compreensão do mundo depende de uma única visão do todo, que influencia nas concepções de tempo sobre uma racionalidade que contrai as experiências do presente e expande as que virão no futuro. Empregando um pensamento único, empobrecido, que fantasia a partir de si mesma a capacidade de compreender todo um universo de saberes, tendo, assim, uma não compreensão de si e do outro.
             Para Boaventura, o conhecimento vive sobre dicotomias que validam a existência e a lógica de não-existência, isto é, a monocultura do saber, sendo critério único de uma ciência verdadeira: incultural. Esse processo não ocorre apenas com o conhecimento, mas também com o próprio tempo que, dentro da ocidentalidade, é linear, produzindo a lógica da classificação social produtivista, na forma de não-existência e inferioridade do subalterno. Ou seja, tudo que não está dentro do parâmetro ocidental é taxado e ignorado, sendo classificado como “subalterno”. Sendo assim, a via que Boaventura indica fundamenta a necessidade de realocar conhecimentos que contraponham o saber ocidental hegemônico, refletindo sobre a totalidade a partir de outros espaços, de uma perspectiva heterogênea.
            Conseguinte, Sousa constrói a tese de superação da razão metonímica, empregando o conceito de dilatação do presente, dividindo-se em: 1) proliferação da totalidade, expansão dos horizontes que coexistem; 2) cada totalidade pode coexistir sem uma relação de poder, ou seja, a proposta é pensar cada dicotomia por ela mesma, uma existência sem pertencimento, exemplificando, pensar uma história das mulheres sem ser comparada com a dos homens, mas pensá-las como partes que coexistem, possibilitando e ressaltando suas particularidades. Assim, através da crítica da razão metonímica, Boaventura destaca a possibilidade e a necessidade de ampliar o presente, justamente para recuperar toda e qualquer experiência perdida. 

3. A CRÍTICA DA RAZÃO PROLÉPTICA 
Fatima Aparecida Mendes dos Santos, Isaura Welker
Dando continuidade à discussão, ao dialogar a respeito da sociologia das ausências e das emergências, Boaventura se utiliza de alguns tópicos para melhor sistematização e desenvolvimento de seus conceitos, como é o caso da crítica da razão proléptica. Como evidenciado acima, a razão proléptica se encontra dentro da chave de análise da razão indolente e, assim como a razão metonímica, valida apenas uma forma de saber singular, de experienciação e de concepção do tempo em detrimento da complexidade de saberes. Enquanto a metonímica contrai o presente, a proléptica expande o futuro, através da linearidade e da hiperaceleração do tempo histórico, visando a evolução e o progresso, reduzindo, assim, a multiplicidade dos tempos e desperdiçando experiências, conhecimentos. O caminho proposto pelo autor a partir das críticas é justamente o oposto: alargar o presente e suprimir o futuro.

Assim, a sociologia das ausências está direcionada a analisar o campo das experiências sociais, como, por exemplo, os projetos de “reinvenção da emancipação social”, vistos pelo autor como um caminho de superação da pobreza, e as demais formas de desigualdades vivenciadas pelas populações que, historicamente, tem sofrido com a ausência do olhar do Estado, ou mesmo das ciências. Por sua vez, a sociologia das emergências propõe ampliar os atributos construídos pelos saberes, para isso dialoga não no sentido dual, mas de modo que se possa visualizar as projeções do futuro atuando sobre alternativas e capacidades - pode vir a ser. A sociologia das emergências pode ser lida também como a sociologia do “Ainda-Nãoedas possibilidades”, já que, para o autor, o futuro é uma possibilidade, ou então, uma emaranhado de possibilidades. 

Passamos a compreender a importância da sociologia das ausências e das emergências, uma vez que cabe a elas, juntas, a tarefa de desacelerar o presente. Enquanto a primeira deve apresentar possibilidades concretas, outras e múltiplas, ou seja, outras alternativas possíveis, a segunda tem por papel preencher o vazio do futuro, sendo orientada pelas expectativas sociais. Como alerta Freire (2004), é necessário que o conhecimento científico esteja à serviço de todas e de todos, e não apenas de uma cultura de apreciadoras e apreciadores da ciência, para que sejamos dignas e dignos, como seres engajados em outro projeto societário. 

4. O CAMPO DA SOCIOLOGIA DAS AUSÊNCIAS E DA SOCIOLOGIA DAS EMERGÊNCIAS 

Ana Paula Bertuol, Kalinka Iung

A sociologia das ausências e das emergências se complementam, estão interligadas; enquanto a primeira está relacionada com as experiências sociais já disponíveis, a segunda está correlacionada com as experiências sociais possíveis. Ou seja, para que as possíveis possam existir é necessário que seja feito um uso proveitoso das que já estão disponíveis, possibilitando experiências possíveis futuras, fazendo, assim, com que a sociologia das ausências seja diretamente ligada e dependente da sociologia das emergências e vice-versa, em um movimento constante de trocas e interferências. Então, a sociologia das ausências deve ser bem expandida, para que, dessa forma, a sociologia das emergências ascenda. Sobre os campos sociais, destaca-se que os campos com mais multiplicidade e diversidade, tanto de agentes quanto de conhecimentos, são fundamentais para esse pensamento. Dentre esses campos, destaca-se os seguintes:

  Experiências de conhecimentos: trata-se de discussões entre conhecimentos empíricos tratados no texto, como, por exemplo, agricultura industrial e biotecnologia e conhecimentos de caráter mais holístico e cultural, como agricultura sustentável e agroecológica e conhecimentos indígenas. Destaca-se a importância do diálogo na troca de conhecimentos e experiências que, aqui, é proposta;

   Experiências de desenvolvimento, trabalho e produção: nesse campo é traçado uma visão sobre como o capitalismo se apropria de tudo que está a nossa volta. Por exemplo, mesmo havendo formas sustentáveis de se viver, o sistema e a lógica do capital permanecem iguais. Mas  apresenta também como essas formas de produção contra-hegemônicas podem nascer mesmo que em uma sociedade capitalista;

     Experiências de reconhecimento: abrange os conflitos entre aqueles/as que ditam e os/as que estão subalternizados/as. Por exemplo, o conflito existente entre todas as atmosferas presentes no sistema capitalista, patriarcal e preconceituoso e os movimentos libertários de uma luta travada contra opressões e discriminações juntamente com a luta anticapitalista;

 Experiências de democracia: enfatiza-se a necessidade da participação popular em decisões públicas e que vão atingir, de certa forma, as pessoas e o meio em que elas vivem, com diversas formas de democracia, porém principalmente a respeito da democracia participativa, em que todos e todas fazem parte da tomada de decisões que influem diretamente em suas vidas e convívio em sociedade;

  Experiências de comunicação e de informação: é aberta uma discussão sobre os diferentes meios de divulgação de informações. Assim como existem meios tradicionais e conservadores, existem meios alternativos, que transmitem conhecimentos mais abertos e inovadores, também conhecidos como imprensa alternativa que, na medida do possível, é uma produção mais independente e “livre”, garantindo resposta à imprensa e comunicação hegemônica.

5. DAS AUSÊNCIAS E EMERGÊNCIAS À TEORIA DA TRADUÇÃO

Thífany Piffer, Gabriela Carla Sychocki

A razão metonímica e a razão proléptica, como apresentado acima, foram vistas e entendidas como respostas hegemônicas, dominantes e, justamente por produzirem o desperdício descomedido de experiências, conhecimentos, modos de ser, estar e entender o mundo, foram desacreditadas e desconsideradas. De fato, como pontua Boaventura, a necessidade de propor uma outra racionalidade que não soterre as alternativas múltiplas nasce da compreensão de que a experiência social em todo o mundo é muito mais ampla e diversa do que os parâmetros ocidentais reconhecem ou consideram relevantes. Porém, como alerta o autor, só porque as soluções não foram efetivas, não resulta no desaparecimento dos problemas. A intensa criação de novas alternativas possíveis resultou: 1) na fragmentação do real; 2) na impossibilidade de conferir sentido às transformações sociais. 

Assim, como alternativa para a resolução das questões expostas, Boaventura inaugura a teoria ou trabalho de tradução, que consiste nas relações, trocas, entendimentos entre as experiências disponíveis e possíveis, que elas possam coexistir sem que nenhuma seja considerada ou avaliada como "mais" ou "melhor". Uma vez que, o sociólogo português não se propõe a pensar novas totalidades, mas sim que todas as totalidades possam ser vistas como partes e todas as partes como totalidades, ultrapassando, dessa forma, as dicotomias. Por exemplo, entender conceitos como Sul, colonialismo, colonialidade, adaptação, resistência para mais do que significam em conjunto, mas também o que dizem por si só, o que está além. 

Para Sousa, a sensação de algo estar incompleto, a ser feito, forja a motivação para dar continuidade ao trabalho de tradução. A tradução entre saberes, através da hermenêutica diatópica, e a tradução entre as práticas sociais e seus agentes, partem do pressuposto que todos os grupos, culturas, saberes são incompletos e podem ser enriquecidos e fortificados pelo diálogo, pelas trocas múltiplas, enfim, (re)conhecer, interpretar e respeitar o Outro. A diferença repousa no fato de que a segunda incide sobre os saberes aplicados, transformados em práticas e materialidades. 

No limite, o trabalho de tradução visa identificar o que une e separa os diferentes conhecimentos, experiências, formas de se compreender a realidade, como também identificar possíveis articulações e alianças, ou seja, quais as constelações de práticas com maior potencial contra-hegemônico. Pensar na união entre o movimento indígena zapatista e o movimento de libertação das mulheres que escolheu a comandante Esther para se dirigir ao Congresso Mexicano, ou então, como o movimento indígena e o movimento LGBTQI+ podem cooperar entre si, é tencionar, rasgar o modus operandi da colonialidade. 

6. CONDIÇÕES E PROCEDIMENTOS DA TRADUÇÃO
Caio Afonso

Continuando as reflexões anteriores e articulando-as, Boaventura disserta sobre o trabalho de tradução. Este vem com o objetivo de produzir o diálogo e enriquecimento em razão de uma multiplicidade de experiências. Deste modo, explica como o trabalho deve ser feito. Em primeira instância, a deliberação democrática deve ser uma das bases para a produção dessa relação. Pautada por um inconformismo perante uma carência, parte de uma perspectiva em que todos os conhecimentos são carentes de um dado conhecimento. No caso, o trabalho de tradução se torna transgressivo justamente por almejar uma ampliação da diversidade, pressupondo para isso um Consenso Transcultural.

        i) O que traduzir? Só é possível responder essa pergunta se observarmos o conceito zona de contato: são espaços em que há o contato entre diferentes perspectivas de mundo e de vida. Duas zonas que constituem a modernidade ocidental devem receber uma atenção especial no trabalho de tradução: zona epistemológica e a zona colonial. Deste modo, a zona de contato cosmopolita vem para contrapor-se às relações que se consolidaram com a globalização hegemônica e , pois compreende que o que será posto em contato e com quem o será durante o trabalho de tradução, cabe apenas ao saber ou prática interessada.

       As zonas de contato multiculturais ao ingressarem no trabalho de tradução proposto, permitem eleger os aspectos mais relevantes e centrais de determinada sociedade, considerados desse modo intraduziveis à outra cultura. No entanto, esse movimento não é o único que define o trabalho, pois espera-se que, conforme avança, as zonas citadas abarquem mais e mais aspectos entre as culturas. Ainda afirma que deve ser feita por meio de uma concepção dialógica e de trocas, já que as culturas não são monolíticas ou sólidas, e que quando vistas de perto, pode-se perceber suas diversas e até conflitosas visões sobre si. 

     As visões mais inclusívas constituem-se as mais promissoras no que se refere as zonas de contato, pois conseguem constribuir no aprofundamento do trabalho de tradução. Ainda respondendo a pergunta, lembra que devemos nos atentar aos critérios da seletividade ativa e a seletividade passiva, afirma. A seletividade ativa caracteriza-se pelas escolhas que citamos anteriormente, já a seletividade passiva constitui o imponunciável, produto de ausências profundas, de vazios impreenchíveis, que contribuem na formação da identidade ininvestigável dos conhecimentos e práticas partícipes.     

    ii) Entre quê traduzir? A seleção do quê traduzir é resultado da convergência entre a necessidade/carência, o inconformismo e a motivação para superar. Boaventura cita alguns exemplos na América Latina de diálogo intercultural, como o que ocorre entre o movimento indígena e os movimentos sociais transnacionais, por exemplo. Neste caso, enfatiza as relações mais horizontais que constituem essa zona de contato. Ou também as relações entre o movimento operário e movimentos cívicos, feministas, ecológicos e de imigrantes que permitem lutas anteriomente impensáveis.

     iii) Quando traduzir? Devemos considerar uma conjugação de tempos ritmos e oportunidades, aponta. Sem isso a tradução perde seu significado, pois transforma-se em novas formas de Imperialismo Cultural. Então, tanto quanto for possível, o objetivo é converter em contemporaneidade e simultaneidade os contatos entre as perspectivas. A inserção na zona de contato não é, por isso, o inicio da história de um grupo social e de uma luta, afirma.  

    iv) Quem traduz? O trabalho é sempre realizado entre representantes desses grupos sociais. O autor os chama de Intelectuais Cosmopolitas, que enraizados nas práticas e saberes que representam, têm ao mesmo tempo uma profunda compreensão de outras práticas e saberes que dialoga, fazendo-o de maneira crítica. E aponta a sabedoria didáctica de Oruka como exemplo, pois baseada no ímpeto pelo saber e no sentimento de carência/incompletude, busca em outras perspectivas, respostas para perguntas que não foram elaboradas ou respondidas por seu saber e sua prática. 

    v) Como traduzir? Basicamente através do diálogo e da argumentação; que só são possíveis quando se há compartilhamento entre conhecimentos e experiêncas. Tendo três dificuldades, o trabalho não parte do chamado topoi (lugares comuns), por este ser particular de cada cultura ou prática. No entanto, conforme avança, novos topoi são construídos nas zonas de contato. Essas construções são transformadas em argumento para o diálogo, superando a primeira dificuldade. A língua é a segunda barreira a ser transposta, pois dificilmente as culturas partilharão e dominarão uma língua comum. Devemos também  considerar que a língua dominante reproduz estruturas de dominação. Chegando na terceira e ultima dificuldade, cita os silêncios, e reflete que o não dito tem muito significado, da a entender, e não é a impronunciabilidade, mas sim as escolhas pelo não dito. Essa é uma das tarefas mais exigentes do trabalho de tradução, aponta.


CONCLUSÃO: PARA QUÊ TRADUZIR?
Luíza Zelinscki

         Num delineado de discussões, Boaventura de Sousa Santos, se coloca numa posição em si contra hegemônica. O sociólogo português usa do lugar de fala europeu para observar culturas e sociedades a partir da ótica criticista. Ao contrário da formatação pré-determinada que exclui o diferente, Boaventura de Sousa Santos propõe uma experimentação e apreciação do presente enquanto multiplicidade de saberes, isto é, o não desperdício do agora em consonância com outras alternativas de ver, estar e sentir o mundo.

          A produção de Boaventura de Sousa Santos explora uma “desobediência epistêmica” desde o próprio ato da escrita à provocação de novas experiências. O que propõe o autor, não chega a ser inusitado, mas parte do princípio de uma reflexão com novos olhares, o do hegemônico, produtor de conhecimento, para as realidades periféricas que vão de encontro ao saber tradicional, criando assim, não um antagonismo, mas rompendo com as zonas de silêncio para a conversão em equilíbrio, em equidade de convivências plurais. 












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