RETORNO DAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL EM MEIO À PANDEMIA

   
      O debate acerca da volta às aulas na Educação Infantil é mais que necessário! A bolsista Isaura Welker, graduanda em Pedagogia da UFFS campus Erechim, reflete sobre as condições de retorno ao ambiente escolar diante da crise impulsionada pelo vírus que circula em escala global, COVID-19.
        "A instabilidade e a incerteza nos movem", como diz a autora em seu texto, fundamentada no atual cenário e suas dinamicidades. Quais os riscos da volta às aulas para Educação Infantil? Há de se levar em consideração toda uma perspectiva de silenciamento que vai de encontro ao pensamento de Paulo Freire baseado no respeito, partindo do princípio de não ocultamento, entendendo a capacidade de compreensão que as crianças têm.
        É válido ressaltar que a reflexão foi produzida pela autora no dia 27 de maio de 2020.


RETORNO DAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL EM MEIO À PANDEMIA

Isaura Welker1

    Beirando os 7000 casos confirmados de COVID-19 no Estado do Rio Grande do Sul, está ocorrendo um grande dilema entre os profissionais da saúde, profissionais da educação e o Governo do Estado: voltar as aulas ou não voltar. As escolas particulares estão sofrendo com a falta de mensalidade, o que prejudica inteiramente o futuro funcionamento dessas instituições; Os pais ou responsáveis necessitam trabalhar; as crianças estão em meio a esse caos mundial, muitas estão tendo que ficar trancadas em casa sem saber o que está acontecendo, por falta de honestidade dos adultos. Esse é o atual cenário não só no Brasil, mas em todo mundo. Nesse momento, a instabilidade e a incerteza nos movem.

    Há muito tempo se rompeu com a ideia da creche ser um espaço assistencialista, que tinha como único objetivo acolher as crianças para os pais ou responsáveis conseguirem trabalhar. Com as lutas pelo direito das crianças, a educação Infantil foi se constituindo como um espaço que visa o desenvolvimento integral das crianças. A famosa frase sobre Educação Infantil, acredito fazer muito mais sentido agora: “Creche não é direito dos pais, é direito das crianças”. Entende-se que muitos pais e muitas mães não tem familiares próximos, ou quem possa cuidar de seus filhos e de suas filhas, mas é necessário arrumar alguma outra alternativa, pois colocar várias crianças juntas em uma escola nesse momento, não parece uma boa solução.

    Como já é de conhecimento de grande parte da população, a transmissão do vírus Sars- COV-2, ocorre de pessoa para pessoa, por meio de gotículas do nariz ou boca e se espalham quando a pessoa é portadora do vírus e acaba tossindo ou falando. Também é transmitida através de gotículas que pousam em superfícies. Tendo em vista esses modos de transmissão, é possível compreender que as crianças e todos os profissionais que trabalham na escola estão suscetíveis a serem portadores da doença.

    Com relação a isso, há alguns pontos a serem analisados. Primeiro: é impossível manter o distanciamento recomendado pela OMS com crianças de 0 a 3 anos que precisam de cuidados. Segundo: Docentes que trabalham na escola vão estar com todos os EPI´s recomendados? Se sim, como vai ficar o psicológico das crianças, já que elas vão estar longe da família e com pessoas que não vão mais reconhecer? Terceiro: Como manter a ventilação do ambiente, tendo em vista que estamos no inverno e as crianças vão estar expostas, não somente ao novo vírus, mas também a uma série de infecções respiratórias? Quarto: Como evitar que as crianças não coloquem objetos na boca e não tenham contato com os olhos? 

    No atual cenário está sendo discutido como retomar o funcionamento das Escolas de Educação Infantil e ser um espaço seguro, não só para as crianças, mas também para  profissionais da educação e seus respectivos familiares. Na China, uma das medidas preventivas de uma Escola foi fazer com que as crianças usassem um chapéu que lembra as hélices de helicóptero, para ter uma ideia de qual aproximação máxima deveriam fazer das outras pessoas. Isso preocupa os estudiosos da área da educação infantil, pois a Base Nacional Comum Curricular, documento que embasa teoricamente o currículo escolar, apresenta seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento para as crianças integrantes da Educação Infantil. São eles: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Qual vai ser o sentido das crianças estarem na creche, sem poder interagir e brincar?

    Contudo, precisamos levar em conta que as crianças podem ser assintomáticas2 e que podem levar o vírus para seus familiares e para familiares de colegas, que fazem parte do grupo de risco. Para além disso, também é necessário pensar em profissionais que trabalham na escola que estarão em contato com as crianças e com pessoas de fora do seu ciclo familiar. Tornando tudo isso uma reação em cadeia. Voltar às aulas, acaba sendo uma perigosa forma de aumentar as chances da propagação e contágio. Desse modo, faz-se necessário que as pessoas compreendam o grande impacto que vai ser o retorno das atividades escolares para toda a comunidade escolar.

1Acadêmica do sétimo semestre do curso Licenciatura em Pedagogia, da Universidade Federal da Fronteira Sul, compus Erechim e Bolsista do Grupo PET Práxis Conexões de Saberes, FNDE.E-mail: isaurawelker@gmail.com
2Que não expressa sintoma (dor, febre, náuseas etc.) ou não produz os sintomas esperados: doença assintomática.







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