JOSE CARLOS MARIÁTEGUI
PERICÁS, L. B. José Carlos Mariátegui: educação e cultura
na construção do socialismo. In: STRECK, D. R.(org.). Fontes da pedagogia latina americana: uma antologia. Belo
Horizonte: Editora Autêntica, 2010, p.247-257.
José Carlos Mariátegui
Nasceu em 14 de junho de 1894 no Peru. Era filho de uma
costureira e não chegou a conhecer seu pai. Teve sérios problemas de saúde na
infância, o que afetou sua formação escolar. Foi basicamente um autodidata, não
teve formação escolar nenhuma. Lia por conta própria, livros, revistas,
jornais. Na adolescência trabalhou num jornal e já começará a freqüentar grupos
de discussão anarquistas. Mais tarde começou ele mesmo a escrever e publicar
artigos na revista. Foi considerado um cronista do cotidiano, seus textos iam
de crônicas políticas ao colunismo social em revistas femininas. Logo
percebeu-se uma forte tendência do jovem em direção ao socialismo, aproximou-se
das idéias marxistas, começou a publicar artigos sobre temas políticos e
sociais, participava de um comitê de propaganda socialista e apoiava o
movimento operário em greve. Crítico ao governo ditatorial de Leguía, foi
exilado para a Europa. Passou pela França e pela Alemanha, e na Itália conheceu
sua esposa e teve um filho. Retornou ao Peru mais preparado intelectualmente.
No seu retorno foi convidado a dar aulas na Universidade Popular Gonzáles Prada
de Lima. Fundou a Sociedade Operária Claridad representante das federações de
trabalhadores e indígenas da Universidade Popular Gonzáles Prada e dos intelectuais
de vanguarda, que tinha como objetivo a publicação de um jornal classista, para
divulgação e conscientização dos trabalhadores.
Publicou em
vida 2 livros, La escena contemporánea, saiu em 1925, e pouco depois, em
1928, publicou os Sete ensaios de interpretação da realidade peruana.
Escreveu sobre temas diversos que iam da política e literatura, até a questão
indígena e educação.
Sobre as
Universidades Populares: o intuito era de uma conscientização ideológica. A
missão seria construir uma cultura revolucionaria – as universidades populares
deixariam de ser vistas como institutos de extensão universitária e escolas
noturnas para os trabalhadores, e seriam vistas como escolas de renovação –
criar-se-ia uma nova experiência intelectual dentro do proletariado para
elaboração e consolidação de uma “cultura operaria”.
Problemática
agrária e indigenista: não acreditava ser possível manter escola e professores
“progressistas” em colégios indígenas enquanto a nação ainda estivesse sendo
movida pela égide do feudalismo. Mariátegui acreditava na democratização e
socialização do acesso a terra, como única condição para que o índio melhorasse
sua situação como um todo, no Peru e no continente em geral.
Propôs, sem
muito aprofundamento, novas formulas escolares baseadas na "autoformação” e no
controle dos métodos e conteúdos do ensino pelas massas populares partindo de
uma progressiva educação ideológica do campesinato realizada por docentes
indígenas – educação promovida pelos próprios índios. Para ele estava claro que
o problema do ensino não podia ser compreendido se não fosse considerado como
essencialmente um problema econômico e social. A educação só poderia ser
reformada quando as leis econômicas e sociais permitissem.
Defendeu a
“escola do trabalho” onde se incorporaria no curso primário o trabalho manual
educativo. Um conceito moderno de escola que uniria trabalho manual e trabalho
intelectual no mesmo ambiente, bem como, um “ensino único”, sem distinção para
as classes burguesas e para as classes populares.
Em relação à
universidade, disse que a crise no setor seria estrutural espiritual e
ideológica, faltavam verdadeiros docentes, que fizessem a diferença. A crise
era de professores e de idéias.
Texto Escolhido:
Os Professores e as Novas Correntes
- josé Carlos Mariátegui
Nesse texto ele da importância fundamental aos professores
do ensino primário, considerados por ele os mais próximos do povo por sua
origem popular.
No espírito
destes trabalhadores intelectuais, estranho a toda concupiscência comercial,
todo arrivismo econômico, se prendem facilmente os ideais dos forjadores de um
novo estado social. Nada os mancomuna aos interesses do regime capitalista. Sua
vida, sua pobreza, seu trabalho, os confunde com a massa proletária. (MARIÁTEGUI)
Os professores
primários se dedicariam exclusivamente ao ensino e compreenderiam de fato os
setores mais humildes da população, justamente por fazerem parte deles, por
isso teriam interesse em melhorar suas condições.
O professor
primário é apenas professor, é apenas quem ensina, enquanto que o professor do
Liceu ou de Universidade é, ao mesmo tempo, literato e político. (MARIÁTEGUI)
Era necessário
abrir os estudos de nível superior aos egressos das escolas normais para
revolucionar as aulas nas universidades.
Há que abrir
os estudos universitários aos diplomados da Escola Normal. Há que se transpor
os obstáculos que impedem a comunicação do professorado primário com a
universidade, bloqueando-o dentro dos rígidos limites do ensino fundamental.
Que os normalistas entrem na universidade. Mas não para aburguesar-se em suas
aulas, mas sim para revolucioná-las. (MARIÁTEGUI)
Não
diferenciava o problema do ensino fundamental do superior. O problema era da
educação pública em geral que compreendia todos os níveis de ensino.
Diferenciar
o problema da universidade do problema da escola é cair num velho preconceito
de classe. Não existe um problema da universidade independente de um problema
da escola fundamental e secundária. Existe um problema da educação pública que abarca
todos seus compartimentos e compreende todos os seus graus. (MARIÁTEGUI)
FERNANDA MAY - BOLSISTA
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