Resumo em tópicos do texto "O problema que não tem nome: sobre metodologias para o estudo das desigualdades"

MAYORGA, C.; ZILLER, J.; MAGALHÃES, M. S.; SILVA, S. A. O problema que não tem nome: sobre metodologias para estudo das desigualdades. In: MAYORGA, C. (Org.).Universidade cindida, universidade em conexão: ensaios sobre democratização da universidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 151-180. 


O PROBLEMA QUE NÃO TEM NOME: SOBRE METODOLOGIAS PARA ESTUDO DAS DESIGUALDADES¹

  • A situação de desigualdade sofrido pelas mulheres, pelos/as trabalhadores/as, LGBTs, pobres, negros/as e a questão da violência, do preconceito e da discriminação, dos direitos humanos são compreendidas, a partir de um certo consenso, como problemáticas importantes, mas que, na maioria das vezes, são abordadas de forma superficial, focando prioritariamente nas suas consequências e não nas causas e razões que sustentam essa problemática, o que faz com que muitas delas permaneçam invisibilizadas.

  • O que identificamos como invisibilidades está relacionado com o que Gramsci vai chamar de subalternos ou grupos subalternos, Freire vai chamar de oprimidos, santos de ausências, e destacamos que tais concepções, embora com diferenças importantes, contribuem para o processo de análise crítica das desigualdades e das exclusões da sociedade brasileira.

  • A forte presença do argumento economicista no debate acerca da democratização da universidade é um exemplo de como a produção da invisibilidade opera entre nós.

  • Então: Como estudar realidades invisibilizadas? Como nomear problemas sobre os quais não consenso público ou ainda como propor a realizar enfrentamentos a problemas que não são reconhecidos como problemas? Qual ciência para o estudo e enfrentamento das desigualdades sociais?

  • Se a ciência moderna hegemônica instituiu, produziu e reproduziu o status quo ou contribuiu para a perpetuação de uma perspectiva única acerca da sociedadea perspectiva liberalseria possível a partir dessa mesma ciência para abordar e identificar os problemas que não tem nome como dito anteriormente?

  • Seria possível estudar o racismo, por exemplo, a partir dessas mesmas categorias através das quais a ciência moderna hegemônica inventou a raça?

  • É possível pensar a democratização da universidade a partir da identificação de três movimentos que consideramos como centrais:
  1. A necessidade de a universidade pública pensar e refletir acerca de si mesma, sobre seus lugares de poder e possibilidades de promoção de autonomia.
  2. A necessidade de a universidade pública estabelecer diálogos com grupos e movimentos sociais diversos que lutam pela democratização da sociedade.
  3. E a necessidade da universidade estabelecer diálogo com a escola pública e comunidades populares, no intuito de enfrentar os abismos que existem entre essas instituições, abismos estes que baseados em uma série de naturalizações que inferiorizam grupos populares.


SOBRE COMO VER O INVISÍVEL

  • Silenciamentos não se constroem subitamente. Tornar socialmente menos visível qualquer parcela da população leva anos de sedimentação de preconceitos, que se transformam em práticas, até que não precisem ser mais explicitadosem determinado momento, as práticas de subalternidade se tornam tão eficazes que funcionam por si mesmas.

  • No âmbito da universidade, trazer à tona invisibilidades e silenciamentos exige cuidados metodológicos específicos, se quisermos que as subalternidades envolvidas sejam reconhecidas como tais por pessoas oriundas de mais de um campo científico.

  • A adoção dessa metodologia nos levou a questionar o ideal meritocrático, especialmente a sua neutralidade, fortemente presente em nossa sociedade, em especial no ensino superior, ao mostrar que grupos socialmente subalternizados obtêm maiores índices de reprovação de forma geral e que atingem a maioria em cursos cujo status social, refletido na disputa por vagas, está entre os menores da universidade.


SOBRE COMO DIALOGAR COM AS INEXISTÊNCIAS

  • A imagem da universidade se desenhava a partir de um certo desconhecimento de suas lógicas institucionais e em discursos por vezes repetitivos e muito similares, como aquela que expropria e usa os movimentos. Por que os movimentos não conseguiam construir conosco um campo de atuação possível? O que eles querem de uma parceria com a universidade?

  • Nesse contexto, a construção possível da legitimidade do nosso trabalho diante dos movimentos, do ponto de vista metodológico, epistemológico e político, se deu através de uma negação do lugar que ocupávamos como universidade.

  • A ecologia de saberes e o estabelecimento de zonas de contato são fundamentais para localizar este trabalho: devemos aprender sem esquecer o que se é, devemos ensinar ou compartilhar a partir de um lugar de fala localizado. E se essa conformação atingiu seus objetivos de dinamizar ou modificar relações sociais, definitivamente essa não é uma resposta dada ou medida somente pelo conhecimento científico ou pelo discurso dos movimentos sociais.


SOBRE COMO QUESTIONAR A NATUREZA

  • Com o programa escola aberta, propomos o trabalho com direitos humanos nos finais de semana em escolas públicas municipais, encaramos o desafio de discutir e problematizar os direitos humanos praticando os Direitos Humanos (DH), ao que denominamos PratiAção. Orientados pela assertiva freiriana de que ninguém educa ninguém e que os seres humanos educam-se em comunhão.

  • Reconhecendo todos os envolvidos nas atividades como coautores e corresponsáveis pelo seu desenvolvimento, para além e em oposição à divisão de quem deposita conhecimento e quem recebe o conhecimento, nos esforçávamos em promover com todos (e não para ou por todos) o debate e a ressignificação dateoriae daprática, em estabelecer uma profícua articulação entre conteúdos/valores/atitudes e compromissos assumidos, em desmitificar a neutralidade cientifica, em reconhecer e valorizar os saber populares presentes na interação vivida, em revitalizar processos educativos, reavivando seu caráter ativo, dialógico e democrático, e em explicitar as opressões, subalternizações e exclusões estruturantes de nossa sociedade e organizadoras de nossa vida individual e coletiva.

  • Outro aspecto importante a destacar é que apresentar a universidade pública como um espaço possível, constituído por elitismos e complexidades, mas também por carências, por contradições e por algumas lógicas de funcionamento e organização muito parecidas com aquelas experienciadas na vida comunitária (nos aspectos positivos e negativos), representou significativo fator de reflexão e reposicionamentos.

  • Independente da atividade desenvolvida, nosso fazer refletido e a socialização de experiências (re)conheceu e identificou a desigualdade como eixo estruturador de nossa sociedade, desvelou e viabilizou os discursos de manutenção de quadro social de injustiças, tendo ainda reforçado a necessidade do reconhecimento da alteridade em condições de igualdade de direitos, convocando a todos à mudança, à transformação da realidade e à construção de outras formas de sociabilidade.
¹ Tópicos-síntese elaborados por Daniel Gutierrez

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas