TROCA DE TUTORES
Segunda-feira, 19 de dezembro, foi homologada a troca de tutores do PET PRÁXIS - Conexões de Saberes, e assim, o Professor Thiago Ingrassia Pereira deixou a tutoria do programa após 12 anos de atuação.
Professor, agradecemos todo empenho que teve com o PET e com os estudantes, e desejamos muita felicidade e sucesso nesse novo ciclo da tua vida.
Confira a carta de despedida do professor:
O PET QUE (VI)VI
Thiago Ingrassia Pereira
Certa vez, no ENAPET realizado na UnB em julho de 2017 , em um dos espaços de discussão, chegamos a uma síntese que me parece muito relevante: o PET é uma forma de viver a universidade.
O que isso significa? Uma forma de viver trata do reconhecimento de lugares no mundo, de sociabilidades, de projetos, de planejamento de carreira e, sobretudo, em se tratando do ambiente universitário, um jeito de aprender e ensinar. A Educação Tutorial tem como concepção filosófica central o trabalho em grupo, a resolução de problemas e a autonomia de seus sujeitos – docentes, discentes e comunidade regional. No limite, essa concepção deveria orientar o trabalho acadêmico a partir do tripé ensino, pesquisa e extensão previsto na Constituição Federal de 1988 e na LDB de 1996.
Resolvi, tendo as condições institucionais para isso, viver o PET. Como é de conhecimento na nossa universidade, tive a oportunidade de participar do Edital de 2010 que oportunizou a criação de novos grupos tutoriais. Naquele contexto, tínhamos uma universidade a construir. Era necessário instituir processos e ir desenvolvendo as atividades típicas do meio acadêmico, com a responsabilidade de trabalharmos a partir do projeto original da UFFS, qual seja, o de ser uma universidade pública e popular.
Com base nisso e considerando minha trajetória formativa como professor de sociologia e pós-graduado em educação (mestrado e doutorado), investi na carreira do magistério superior que se descortinava. Darcy Ribeiro falava sobre a enorme alegria que um profissional da educação tem ao se envolver na construção de uma universidade. Ele tinha razão, pois é um trabalho exigente e muito gratificante.
Nessa construção inicial, o Edital do PET foi algo muito significativo que me arrebatou desde o primeiro momento que tomei conhecimento da proposta. Havia ali um feliz “casamento”: de um lado, a possibilidade de trazer para a UFFS um Programa tradicional da universidade brasileira; de outro lado, o Edital apresentava a novidade de grupos PET na modalidade Conexões de Saberes, o que ia ao encontro dos pressupostos fundantes da UFFS (ser popular, inclusiva, focada na primeira geração de pessoas a chegarem ao meio acadêmico). Junto a isso, minha trajetória em pré-universitários populares em Porto Alegre, resultando na pesquisa de mestrado que defendi em 2007 , momento em que fui bolsista FNDE junto ao Programa Conexões de Saberes UFRGS, me seduzia à nova modalidade do PET. Esse fato é ratificado pela minha pesquisa de doutorado em andamento à época, defendida em 2014 , que tratou das classes populares na universidade pública a partir da experiência da UFFS em Erechim, Alto Uruguai gaúcho.
O Grupo PET, nomeado de Práxis-Licenciaturas, foi aprovado e entrou em funcionamento ainda no final de 2010, primeiro ano de atividades letivas da UFFS. Passávamos a fazer parte de uma grande rede nacional e, no âmbito local, de um segmento com outros quatro grupos tutoriais da UFFS. Como é típico de nossa experiência fundante da UFFS, assumimos o desafio de construir o PET junto com a universidade como um todo. Desde então, vivo o PET a partir do Práxis-Licenciaturas, modalidade Conexões de Saberes.
Dessa forma, meu compromisso com o PET se materializa em uma intensa atuação, seja na tutoria do Grupo, na constituição e participação frequente no CLAA/PET/UFFS ou na presença em eventos petianos . Cada constituição do grupo de bolsistas, estudantes das licenciaturas do Campus Erechim, nos permitia repensar as estratégias formativas. Portanto, o PET é movimento, é interação, é trabalho em grupo e em constante transformação.
Em minha experiência, vivi a mudança da CAPES para o FNDE no custeio do PET. Cheguei a investir a verba de custeio por meio de cheque administrativo, portanto, antes da mudança para o manejo do cartão BB Pesquisa. Na mesma linha, vi surgir a plataforma Sigpet, o que melhorou fluxos administrativos do Programa, nos permitindo um espaço próprio para homologação de bolsas, postagem de planejamento anual, relatório e prestação de contas da verba de custeio. É por meio do Sigpet que vinculamos bolsistas, bem como o desligamos pelos motivos previstos na legislação do PET – MOB, Portaria MEC 976/2010, alterada pela Portaria MEC 343/2013, além da Lei nº 11.180/2005.
Durante meu período de tutoria do PET Práxis-Licenciaturas eu registrei 56 estudantes, além dos nove atualmente integrantes do Grupo. Considerando as primeiras formações do nosso Grupo, seguramente já trabalhei com mais de 70 estudantes dos nosso cursos de licenciatura. Todas e todos ingressaram no PET por meio de processo seletivo regido por Edital público, marca do nosso compromisso com a transparência. Temos egressos(as) trabalhando na educação básica e outros(as) que seguiram os estudos em nível de pós-graduação.
Ser tutor do PET me permitiu viver o nosso desafio de qualificar a graduação. A proposta da Educação Tutorial é a construção de grupos que desenvolvam ações de ensino, pesquisa e extensão. Portanto, o PET não é um projeto relacionado a alguma atividade-fim da universidade, mas um Programa de formação acadêmica de excelência. A própria duração do período das bolsas do PET é diferenciada em relação a projetos de extensão, cultura e pesquisa. Entendo o PET como um espaço potente de ações formativas que desenvolvem a pesquisa, a extensão, a cultura e a postura interdisciplinar, perspectiva muito presente na agenda científica nos últimos anos. Ressalto que a interdisciplinaridade é uma característica esperada da modalidade Conexões de Saberes, aliando excelência acadêmica e compromisso social.
Ao vivermos as ações do PET, todas discutidas em planejamento participativo com o Grupo, nos colocamos o desafio do registro, da memória e da divulgação do nosso trabalho. Isso explica os canais de divulgação do nosso PET Práxis-Licenciaturas, nossas viagens de estudo, participação em eventos com apresentação de trabalhos, além da publicação de artigos em periódicos e de seis (6) coletâneas . Durante meu período na tutoria, sempre buscamos essas vivências, pois sei que a formação acadêmica é algo que deve ser muito maior do que o espaço da sala de aula e do próprio Campus.
Portanto, sou extremamente grato à oportunidade de ter vivido essa experiência significativa do PET. O exercício da tutoria é algo que me tomou o cotidiano nesses últimos anos. Não foram poucas as vezes que tive que me reinventar enquanto tutor. Aprendi que a tutoria é um acompanhamento que ultrapassa a orientação acadêmica mais tradicional. Na condição de tutor eu vivi contradições e afirmações, alegrias e desconfortos, mudanças e continuidades e, sobretudo, a aposta em princípios que me são basilares: diálogo, participação e autonomia.
Penso que é na intensidade da minha experiência do PET ao longo dos anos fundacionais da UFFS que podemos encontrar as razões que justificam minha longevidade no trabalho de tutor. Simplesmente, viver o PET, o grupo Práxis-Licenciaturas, a Educação Tutorial e a formação humana que esse espaço permite foi uma alegria. Ser petiano é uma forma, a minha forma, de viver a UFFS, de me relacionar com as pessoas e com o conhecimento científico. Mesmo não permanecendo na tutoria, não é possível deixar de trabalhar a partir dos fundamentos filosóficos e metodológicos da Educação Tutorial que aprendi. Uma vez do PET, sempre petiano!
Tenho convicção que é possível seguir reinventando o PET Práxis-Licenciaturas. A trágica experiência em tempos de pandemia mostrou isso, talvez da forma mais desafiadora. Estamos sempre em transformação. Se fosse para apenas repetir o que já fizemos, talvez não valesse a pena seguir. O PET é movimento, é tensão, é intenção, é construção. Nosso PET Práxis-Licenciaturas se confunde com a própria história do Campus Erechim e é a partir dessa história que vivi esse percurso e que o Grupo vai se reinventar e projetar o seu futuro. Desde já, desejo uma excelente experiência, com muitas realizações e novidades, ao meu colega que assume a tutoria do PET Práxis-Licenciaturas.
Portanto, a quem me lê, ratifico o meu agradecimento aos colegas do Campus Erechim, à PROGRAD, ao CLAA, aos colegas tutores e tutoras que convivi e que me ensinaram muitas coisas. Ficarão marcados em mim nossos encontros, eventos, reuniões, conversas, risadas e o trabalho conjunto desses anos que foram fazendo do PET um espaço importante da UFFS. Graças ao PET, conheci cinco Campi da UFFS, publiquei livros, viajei com estudantes e tive a oportunidade de contribuir diretamente com a formação de muitas e muitos estudantes de graduação. A elas e eles, estudantes, meu muito obrigado.
Reafirmo meu compromisso com a Educação Tutorial na condição de tutor egresso, assim como com a qualidade acadêmica e política da nossa UFFS e, em especial, dos nossos cursos de licenciatura do Campus Erechim. Seguirei atuando na graduação e na pós-graduação, contribuindo com esse enorme desafio de formar pessoas.
Erechim, 19 de dezembro de 2022.
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