Síntese "Pesquisa Participativa e Educação Popular: epistemologias do sul"
GRUPO PRÁXIS - PET CONEXÕES DE SABERES/LICENCIATURAS
SÍNTESE "PESQUISA PARTICIPATIVA E EDUCAÇÃO POPULAR: EPISTEMOLOGIAS DO SUL"
CHERON ZANINI MORETTI E TELMO ADAMS
ERECHIM
2019
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MORETTI, C. Z.;
ADAMS, T. Pesquisa participativa e educação popular. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 36, n. 2, p. 447-463,
maio/ago. 2011.
Pesquisa Participativa e
Educação Popular: Epistemologias do sul
Talia Gabrieli Fianco
Nesse
artigo, a autora Cheron Zanini Moretti e o autor Telmo Adams apresentam uma
aproximação entre a Pesquisa Participativa e a Educação Popular, pensando ambas
como que ancoradas em epistemologias surgidas ao sul. Nesse sentido, são
mobilizados os exemplos promovidos por Paulo Freire e Orlando Fals Borda para
que se possa problematizar essa produção do conhecimento dentro de um contexto
de (des)colonialidade, de emancipação do espelho
eurocêntrico. Valorizar um outro conhecimento, que não seja o vindo da
colonialidade do norte, parece ser, para a autora e para o autor, o marco inicial
para que seja promovida a reinvenção da emancipação social.
Propondo-se
a pensar a América Latina a partir de uma Outra
Modernidade, que não aquela elaborada por europeus que consideram a sua
chegada até a América como marco histórico para uma delimitação temporal,
ignorando todo tipo de vida e de conhecimento que já existia nesse vasto
continente, Moretti e Adams apontam para uma pedagogia da insurgência,
construída com as classes populares para que se possa disputar e reivindicar o
campo do conhecimento.
Compreende-se
que a América Latina e Europa constituíram-se unidades em conflito e que a
educação e a pesquisa têm sido campos preferenciais de disputas epistemológicas
e de lutas políticas, o que envolve diretamente as condições de produção e o
desafio da democratização do conhecimento. (2011, p. 448).
Assim,
para ganhar espaço nessa busca por pertencimento, é fundamental desligar-se do espelho eurocêntrico, isto é, livrar-se
das amarras que induzem o pensar a partir do Outro. É criar um ambiente que não exija ser o que não somos,
pensando com Aníbal Quijano, e que reivindique a nossa identidade, o que somos.
Essa identidade foi sendo moldada ao
longo do processo de colonização, por um processo pedagógico elaborado e
imposto de maneira a desumanizar homens e mulheres latino-americanos. Para
romper com esse processo, aponta-se a proposição de Dussel e seu conceito de trans-modernidade. A autora e o autor
mencionam os avanços já percorridos nesse projeto de emancipação, e citam a
aprovação de governos com propostas de transformação em muitos países do
continente, que promoveram lugares de reflexão sobre o que somos. Além disso, o
exemplo das mobilizações indígenas e camponesas também surgem nesse cenário
como algo que é possível, como as outras formas de “ser” possíveis.
Os zapatistas no México e o
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) no Brasil são “[...] dois
movimentos anticapitalistas que carregam a tensão da (des)colonialidade ao
lidar, mesmo que de forma distinta, nas relações com governos.” (2011, p. 450).
A Educação Popular é aqui também evocada como exemplo de resistência a esse
processo de dominação intelectual europeu, lembrando que essa resistência se dá
através de dinâmicas que permitem que a voz do oprimido, que sempre foi negada,
possa ecoar, ser livre. Todas essas experiências devem ser valorizadas, visto
que são produzidas pelo protagonismo dos movimentos sociais, são experiências
do sul, que possibilitam colocar a
insurgência e a (des)colonialidade como categorias indispensáveis para o
entendimento dos processos educativos.
Moretti e Adams conceituam que, no
contexto latino-americano, essa insurgência pode ser identificada como um
princípio pedagógico no qual os movimentos sociais traduzem a insatisfação dos
seus grupos frente a realidade social existente (p. 452). Daí viria sua força
de protagonizar as mudanças. “Trata-se da insurgência no sentido de recuperar
ou criar a possibilidade de dizer a sua palavra, de fazer com que a revolta e a
indignação contra as condições opressivas se transformem numa potencializadora
de mudanças.” (STRECK, 2006, p.108 apud MORETTI; ADAMS, 2011, p. 452). É ainda
pertinente, partindo das reflexões de Paulo Freire, compreender-se a
insurgência a partir de um caráter de permanência, educando a rebeldia para que
ela se transforme em inserção, passando de ingênua à crítica.
Em um dos tópicos do artigo,
intitulado “A Pesquisa Participativa Alimentando Pedagogias Populares”, autora
e autor refletem sobre o papel político e social da Pesquisa Participante,
entendendo que através dela é possível fortalecer as Pedagogias Populares. Essa
metodologia de pesquisa seria responsável por conhecer em profundidade a vida
da sociedade e da cultura, estabelecendo uma relação que constitui o pesquisado
como sujeito, e não apenas como objeto de pesquisa. Segundo essa perspectiva, a
pesquisa não pode ignorar a colonialidade que se expressa na classificação
social e no desprezo do que é característico da América. Como exemplo de forças
contra hegemônicas elaboradas na América Latina, cita-se a filosofia da
libertação, a sociologia crítica, a teologia da libertação e os movimentos
sociais, movimentos estes que partem da potência transformadora que está nos
oprimidos para pensar outros modelos de sociedade que garanta a igualdade a
todas as pessoas.
Para fins de conclusão, destaca-se
que “[...] a pesquisa eticamente comprometida com a justiça e a transformação
social se colocou com o objetivo de compreender para servir a uma educação e
lutas emancipadoras.” (2011, p. 456). Trata-se de uma pesquisa engajada na
defesa de uma pluralidade de saberes em uma relação de horizontalidade em suas
relações de poder. Uma educação popular insurgente, no contexto de uma
epistemologia desde o sul, se faz na
sua conexão entre sujeitos ativos e coletivos, na tradução da insatisfação dos
seus grupos com a realidade social existente em experiências alternativas ao
espelho eurocêntrico. Citando Simón Rodríguez, autora e autor terminam seu
texto alegando “Ou inventamos ou erramos”, e que é preciso seguir na busca
utópica de não ser o que não somos.
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