Síntese "Educação Popular em Debate"
UNIVERSIDADE
FEDERAL DA FRONTEIRA SUL - CAMPUS
ERECHIM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL (PET) - GRUPO PRÁXIS (LICENCIATURAS)
LIVRO
“EDUCAÇÃO POPULAR EM DEBATE”
FICHAMENTO
DOS CAPÍTULOS “ESTUDIOS FEMINISTAS, ARTE POPULAR Y EDUCACIÓN POPULAR” E “O
MASCULINO NÃO INCLUI O FEMININO! LINGUAGEM INCLUSIVA EM DEBATE”
ERECHIM
2018
Programa
de Educação Tutorial (PET) Modalidade Conexões de Saberes
GRUPO
PRÁXIS - Licenciaturas
Blog:
http://petconexoesdesaberes-uffs.blogspot.com.br
Facebook: @GrupoPraxisPETConexoesdeSaberes
Email: petpraxiserechim@gmail.com
Universidade
Federal da Fronteira Sul Campus Erechim – RS
Tutor
Prof. Dr. Thiago Ingrassia Pereira
Bolsistas
Andrieli
da Silva Raupp - História
Bruna Luísa Szast – Ciências Sociais
Caio
Afonso da Silva Brito – História
Ellen
da Silva do Nascimento – História
Fatima
Aparecida Mendes dos Santos – Ciências Sociais
Jenifer
de Aguiar Ramos – História
Kerolin
Kalinka Nunes Iung - Geografia
Luíza
Zelinscki Lemos Pereira - História
Paulo
Alberto Duarte Junior – História
Rocheli
Koralewski – Ciências Sociais
Samuel
Bagolin Zambon – Ciências Sociais
Talia
Gabrieli Fianco – História
Thífany
Piffer – História
Introdução
A
leitura destes dois capítulos do livro “Educação Popular em Debate”, o qual é
resultado do I Fórum de Estudos e
Leituras de Paulo Freire: Educação Popular em Debate, que aconteceu em
Manaus, no mês de abril de 2016, foi realizada pelo grupo PET Práxis no mês de
Junho de 2018, como encerramento de um bloco de estudos que discutiu no
semestre 2018/1 a temática do feminismo e sua relação com a educação popular.
Passando
por Paulo Freire e por bell hooks, o bloco de estudos culminou na leitura dos
textos Estudios feministas, arte popular
y educación popular, de autoria da professora mexicana Eli Bartra, e o
texto O masculino não inclui o feminino!
Linguagem inclusiva em debate, escrito por Amanda Mutta Castro e Nivia
Ivette Núñez de la Paz. O fichamento dos capítulos lidos e discutidos pelo
grupo serão apresentados a seguir, e sua produção foi realizada por bolsistas
que acompanharam o debate.
PET- Práxis 17/07/2018
ESTUDIOS
FEMINISTAS, ARTE POPULAR Y EDUCACIÓN POPULAR
Talia Gabrieli
Fianco
Preocupada
em articular e problematizar as questões relacionadas aos estudos feministas,
educação popular e arte popular, Eli Bartra, professora de universidade pública
da Cidade do México, traz para a discussão a participação e o reconhecimento
das mulheres da américa latina no campo da produção artística. Ela parte da
conceituação de duas formas possíveis da presença das mulheres no campo da arte
para organizar sua argumentação: a participação das mulheres como produtoras de
arte e as mulheres como representação, como conteúdo, como objetos femininos a
serem apreciados nas obras. (p.81)
Bartra
questiona o conceito de “arte” tradicionalmente considerado pela sociedade,
argumentando que essa forma eurocêntrica, branca e masculina de produção
artística acaba por excluir e até mesmo ignorar manifestações de talentos
populares, espalhados e presentes em diversas culturas. Para a autora, “La
cultura popular son los saberes, las creencias, las pautas de conducta, así
como los medios materiales, como el arte y la literatura, utilizados por las
mayorías, por la gente com poco poder adquisitivo y com escassa escolaridade,
para comunicarse.” (2017, p. 80). Por isso, ela tenciona os motivos que levam a
arte dos povos indígenas e a arte das mulheres latinas a receberem o status de
artesanato, apesar de sua importância e dos seus significados.
Para
a professora, é preciso derrubar a noção única e a estética tradicional da
arte, representada apenas pelos nomes dos grandes homens, já que “El arte, como
todo produto cultral, se halla inmerso en contextos sócio-históricos
específicos y de ahí que nos hayan regido determinadas reglas culturales que se
hicieron dominantes.” (2017, p. 81). Portanto, tratando-se de um produto
cultural, ele pode ser alterado e adequado aos novos contextos. Contextos esses
que incluem a afirmação das mulheres como produtoras de arte e a melhoria das
condições de trabalho desses sujeitos que estiveram tanto tempo sufocados pelo
padrão hegemônico (p. 82-83).
Uma importante reflexão trazida por
Eli Bartra é a de como exposições feitas por artistas mulheres são sempre
anunciadas e adjetivadas como “exposições de mulheres”, enquanto exposições
feitas por homens nunca recebem destaque especial por serem “exposição de
homens”. O mesmo fenômeno, ela observa, ocorre com as exposições de artistas
indígenas, quando anunciadas como “arte étnica”. De maneira desconfortante e
sem rodeios, Bartra afirma: “A uma etnia, desde luego, solo pertenecen los
sujetos de piel morena, los ‘blancos’ no tienen etnia.” (2017, p. 84)
Em relação a uma representação
feminina na arte, são apontados os fatores que contribuem para que sejam
produzidas e vendidas uma imagem das mulheres como ingênuas, delicadas,
indefesas e puras. Essa forma de apresentar o feminino é criada por homens, e
feita para atender um sistema em que “Las leyes del mercado capitalista
determinan los gustos, las modas, lo que vale y lo que no vale.” (2017, p. 86).
Nesse sentido, Bartra argumenta que só uma participação feminista das mulheres
no ramo da arte pode romper com essas concepções que fazem do feminino o objeto
de proteção e responsabilidade do masculino.
Bartra conclui seu texto trazendo
exemplos de arte feminina e feminista que são carregadas de expressões
políticas e de significados para o contexto do qual emergem. A arte das colchas
de retalhos das mulheres brasileiras Abayomí, os bordados e pinturas das
mexicanas e tantas outras manifestações artísticas latinas precisam ser
reconhecidas e reafirmadas como ato político, como arte: “Y pienso que si hay
um arte erudito em feminino hay también un arte popular em feminino, preciso es
conocerlo y reivindicarlo como tal. Conocer las diferencias contribuye a
construir las igualdades, las equidades.” (2017, p. 92). Em torno dessas
palavras, destacando a importância de reconhecer no popular toda sua força e
sua relevância, é que Eli Bartra fornece energia e motivação para que se dê
seguimento na luta pela igualdade e a desconstrução dos padrões tradicionais
que insistem em silenciar os oprimidos.
O MASCULINO NÃO INCLUI O FEMININO!
LINGUAGEM INCLUSIVA EM DEBATE
Thífany Piffer
As professoras Amanda Motta Castro e
Nivia Ivette Núñez de la Paz tem como área de pesquisa e atuação temas
relacionados à educação popular, feminismo, processos de exclusão social e
violências contra as mulheres, por exemplo. No texto em questão, as autoras
dialogam a respeito da linguagem inclusiva através das contribuições de Paulo
Freire e dos Estudos Feministas. Educação Popular e Feminismo são vistos como
temáticas polêmicas “principalmente pelo fato de serem temáticas que questionam
aquilo que, “normalmente”, por séculos, tem permanecido oculto, sabotado e “naturalizado”
pela sociedade patriarcal, classicista, racista e heteronormativa.” (2017, p.
207).
No que toca Freire, a partir da Pedagogia do Oprimido (1964), tem-se a
possibilidade da abertura de diálogos e debates sobre uma educação política e
popular, porém, não levando em consideração a linguagem inclusiva, recebendo
inúmeras críticas, principalmente de feministas estadunidenses. Ao invés de
manter escondidas e ignoradas as críticas feministas, Freire em Pedagogia da Esperança: um reencontro com a
Pedagogia do Oprimido (1992) assume seu machismo presente e arraigado na
sociedade patriarcal e retoma as discussões acerca da importância do lugar da
linguagem inclusiva. Em uma passagem de seu livro, por exemplo, Paulo Freire
comenta sobre uma das críticas recebidas, na qual o autor dialoga sobre os
homens serem capazes de transformar a realidade. Mas e as mulheres? Por sua
vez, o autor engaja em seus escritos a linguagem inclusiva – utilizando, a
partir daí, o feminino e o masculino.
As autoras problematizam que o movimento
da linguagem inclusiva não é somente uma temática de denúncia, mas sim a
anunciação de uma nova forma de convívio possível e inadiável. Apresenta-se
como uma ação que ocorre gradualmente, a partir da luta contínua e constante,
através de críticas, questionamentos, estudos, debates – “Como mulheres,
precisamos nos empoderar para promover e efetivar transformações culturais e
sociais.” (2017, p. 208). É sustentado no texto que a linguagem inclusiva não
pode e não deve ser aprendida de forma mecanicista, mas sim, deve apropriar-se
dela. Não existe um caminho único e linear para que ocorra essa apropriação,
dessa forma, tem pessoas que utilizam, gramaticalmente, para referir-se ao
feminino e ao masculino “a/o”, “@”, ou então, optam pelo “x” – sempre operando
através de justificativas inclusivas e políticas.
Nos é ensinado que os plurais
masculinos incluem as mulheres, porém quando somos taxadas de “cadelas,
vagabundas, vadias e putas”, quando somos xingadas, não necessitam de um termo
“genérico”, nem muito menos masculino plural.” (2017, p. 211). Entende-se,
então, que não é apenas um deslize gramatical, mas sim um problema ideológico e
social. Um exemplo de sexismo na linguagem expõe-se através de piadas machistas
que, ao serem naturalizadas, sustentam a ideia de coisificação da mulher – “um
corpo-coisa-objeto que poder ser roubado, vendido, trocado, usado, usurpado,
maltratado, machucado.” (2017, p. 214).
As professoras articulam que o
sexismo constitui-se em ações e comportamentos que privilegiam um gênero ou uma
orientação sexual em detrimento de outro, o qual defende que homens e mulheres
tem papéis, capacidades e atitudes diferentes, o tão famoso e difundido “coisa
de menino e de menina”. Através disso, a força, inteligência, coragem são
características atribuídas aos homens, enquanto as mulheres permanecem com
características que englobam a fragilidade e, principalmente, a necessidade de
proteção, reforçando as relações de dominação e superioridade.
A problematização empregada pelas
autoras, através da utilização do vídeo pedagógico sobre representação de
gênero, “Empodere Duas Mulheres” decorre da experiência com uma turma escolar
britânica, a qual foi convidada para desenhar “um bombeiro, um piloto de avião
e um neurocirurgião”, relembrando sempre que, em inglês, os substantivos não
possuem gênero. Ao final do experimento, praticamente a totalidade das/dos
alunas/alunos haviam produzidos desenhos e dado nomes masculinos aos
profissionais. A maior surpresa foi o momento em que pessoas que exerciam esses
cargos foram convidadas para adentrar a sala de aula, espantem-se: ERAM
MULHERES!
Dessa forma, Castro e Núñez de la
Paz concluem que nós, mulheres, somos “menos conhecidas” enquanto profissionais,
cientistas e pesquisadoras, como se o sexo feminino fosse incapaz de pensar,
ser criticista e problematizar. “Não nos enganemos; nós estávamos lá, desde
sempre, mas estávamos do jeito que era permitido e correto: “incluídas” no
masculino plural.” (2017, p. 212). Através dos estudos e debates feministas nos
foi ensinado que a caminhada tem que ser conjunta, um caminho trilhado por nós
e para nós. “Estamos juntas? Vamos pensar? Vamos dialogar? Vamos andar? Então,
precisamos desconstruir...” (2017, p. 209).
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