PRO FORMA SOBRE O PARADIGMA DE ESTAR VIVO

 



Alex Dos Santos¹

    No princípio era o Verbo, e hoje os goles me cansam e fazem meus dentes doer, uma sensação desagradável para se experimentar em apenas uma realidade; provavelmente estou no oitavo copo de whisky e algumas músicas apresentam muito mais sentido do que eu sequer imaginava. A luz está acesa e sinto meus braços com uma frequência absurda eles se mexem da esquerda a direita, com seu pulso leve, sensível e quem sabe até fraco.  Só sinto isto porque estou aqui, vivo e muito motivado a entender o porquê você lê isso. Talvez queira saber o que se passa na cabeça de um estranho, alguém que você nunca imaginou pensar sobre por certas e certas perspectivas, se eu fosse você, estaria lendo isso para tentar me encontrar vivo, com um propósito valido o suficiente para querer optar por mudar de música.

    Tenho uma cachorra e ela dorme em meus pés, a barriga dela é quente e tenho uma imensa necessidade de mexer os pés para ver se ela se mexe; ela nunca se mexe, talvez esteja confortável com sua existência à mercê de um pé, meus pés me levaram a lugares icônicos e por vezes visualmente horríveis de se estar, tudo parecia um acaso e um medo sendo enfrentado, me senti perdido e percebi que a lua não aparece todos os dias.

    Gosto de uma dama mas, ela não me deixa feliz o suficiente para me prender em uma simples realidade, apesar que nenhuma realidade é simples demais, só pelo fato de serem realidades são complexas ao nível de hospícios perto de declarar falência. Cigarros se tornaram uma coisa sutil e ineficaz para me deixar confortável na realidade que vivo, bebo muito e no décimo copo a garrafa do whisky acabou. Felizmente tudo tende a acabar e com essa frase eu já declarei a compra de uma garrafa de Vodca, talvez isso se apresente como algo muito ruim e totalmente compreensível de repulsa: o alcoolismo, algo que faz milhões de pessoas perderem a noção do que de fato é real, uma substância que pode de início te alegrar e no fim, te mostrar como você é forte sem ela.

    Faz muito tempo desde que escrevi isso, mudei um pouco e meus pensamentos agora são outros, não são as coisas mais fluida do universo, mas, eu consigo sentir a fraca sensação de ter uma perna e tocar sem chinelo na grama, sim, eu pisei na grama esses dias e me senti feliz por estar vivo sentindo a grama, estar vivo é algo que se mostra com uma dificuldade imensa de se lidar. Tipo ler uma receita de taco mexicano e tentar reproduzir – a teoria do taco é fácil demais para uma prática na realidade concreta, falo isso caso você já tenha realizado a massa e todos os procedimentos que ela demanda, se você fez a alternativa que envolve massa de pastel já comprada, você é sensível demais para lidar com a cozinha.

    A massa ficou horrível mas, eu estava existindo e feliz por ter errado a massa do taco, me obriguei a comer uma coisa estranha que um dia quase se realizou sendo um taco, foi uma sensação engraçada e percebi que só realizava aquela massa para significar o dia que estava sem muitos significados, foi um dia esquecível, como os 85% dos dias que nós vivemos, sem nada de especial, talvez a massa do taco fosse especial, mas é um valor que dou a essa massa agora, naquele momento ela apenas compartilhava comigo o vazio de querer ser algo, ter um valor ou saber o porquê existe.

Existir demanda uma boa energia da nossa consciência e me faz questionar sobre o que eu faço aqui? Pensando e olhando o chão branco, pensando em coisas que muitas outras pessoas um dia já pensaram. Estar aqui, só e com os lábios macios e com um gosto sútil de azedo na boca talvez pelo limão que coloquei em minha bebida ou quiçá, por pensar que estou vivo e pensando sobre esse fato incomodativo. Observando o fenômeno de viver e ter uma consciência para isso.

 Um fenômeno que é bem interessante é o do sentimento, prazeres e fracas certezas de o porquê você tem e mantem os vícios que possui, esses vícios deixam o dia e a noite à espera de algo que nunca chega mas, alivia o presente na falsa esperança de acreditar, talvez seja a ansiedade te atacando ou algo pior: você está transcendendo demais com esses objetos que te rodeiam, você e essa bela mesa, sozinhos no acaso que é o presente, você pensando na mesa e a mesa existindo apenas para você. Ou quem sabe você está apenas tendo alguns devaneios sobre o que o presente de amanhã pode te oferecer e sempre oferece.  Nesse exato momento chegou o caminhão de lixo, levando consigo tudo que os humanos não conseguem lidar muito bem, vamos lá, você sabe: falo das nossas fracas sensações de individualidade, de só pensar consigo e para si, olhar o outro e não pensar que também é uma consciência.

Os olhos da minha cachorra são verdes e ela olha bem no fundo do meu ser, talvez seja a culpa do nome dela: Manila. Uma capital e uma drag queen, qual realmente foi a referência para escolher o nome dela você não vai saber hoje. Hoje estou mais disposto a ser um projeto mais forte em conquistar as coisas que o capitalismo me pode oferecer, esses dias vi uma mulher comprando gasolina e senti a imensa necessidade de comprar gasolina também, apesar de eu não ter o fenômeno do carro, a gasolina talvez serviria para acender um fogão de lenha e realizar a sopa de ossos que está sendo cobrado no mercado.

 

Da minha percepção vejo um mundo,

Pessoas e coisas que me cansam a visão.

Bobagens e maldades que se apresentam como um bolo.

Minha cachorra é preta,

Um sofá quase da cor dela,

Laratadin 10 mg.

Uma caneta BIC e um isqueiro da mesma empresa,

Livros e confusões sobre estar vivo,

Escrevendo.

 

            Agora estou melhor, continuo a beber e se passou 5 dias desde a última vez que transcrevi pensamentos a uma folha qualquer, os dias são eternos e tenho uma sensação de que algo não vai acontecer até que eu decida fazer algo; que mundo figurante é esse? Que as coisas só se realizam quando saio do lugar, saber que se eu sair algo muda, minhas inseguranças chegam e vejo um presente imóvel e sensível para descrever nesse pensamento incerto de o que de fato, vou escrever.

E se isso for um diário? Talvez eu chamaria de “O INCRÍVEL PARADIGMA DE ESTAR VIVO”. Apesar que minha vida não serviria como padrão digno de ser seguido, no máximo ela é um erro de mal gosto, ou de interpretação sobre o que significa estar vivo. Estar vivo é se decepcionar com todos e todas, perceber que buscamos coisas para suprimir um vazio que só existe pelo sistema instaurado, ou quem sabe exista porquê de fato, o processo da evolução biológica nos deixam dúvidas e dúvidas são cruciais para se entrar em um vazio.

Uma vez no vazio, tu sempre voltaras nele, é uma condição inevitável ao ser humano, somos feitos do vazio e do vazio tentamos significar algo, por isto escrevo aqui, para tu ler e perceber que o meu vazio fez isso, uma pessoa que se sente ausente e fraco, com muitos medos e inseguranças incontáveis. Também não tenho nenhum amigo, certo, tenho amigos, mas, eles não ligam para minha existência e eu também não ligo para a existência deles.


¹Acadêmico do curso de Licenciatura em Filosofia na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) campus Erechim/RS e bolsista do Grupo Práxis - PET Conexões de Saberes (FNDE).

Comentários

  1. No início achei bucólico moderno, mergulhei em uma dose de melancolia na medida de uma dose de whisky envelhwcido, pequena porém capaz de me deixar mal, olhar para o ambiente e não me reconhecer ou estranhar o minha existência descrita em palavras das quais apesar de outrem me eram tão familiares. E tudo isso para dizer que goste belo, estranhamente belo em tuas palavras, de uma forma tão gigante que nos afoga

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