Qual é o preço?



Qual é o preço?

    André Luis Lira Lemos [1]

De XT dando fulga na neblina, vinha Toddynho no toque fazendo vácuo no vento na estrada de Itapecerica. A barca atrás e o menor no toque, quando que na fulga deu um quebrão na favela direto pros cemitérios dos robôs, os bico nem viu. Chegando na mata, desligou os alarmes e tirou o rastreador, saiu fora, já foi direto pra goma. Chegando na goma, Toddynho viu sua coroa sentada vendo noticiários; fulgas e assaltos. Caminhando em direção ao seu quarto, dona Fátima  pergunta:

-       Chegando tarde.

Exclamou e prosseguiu:

-       Cê tava aonde moleque?

-       To vendo uns trampo com o Diguinho!

-       E Diguinho quer saber de trampo, aquele lá agora tá de vapor na lojinha do Gigante.

Em um piscar de olhos, Dona Fátima se retirar donde estava e chegando próximo do Toddynho, diz:

-       Fiquei sabendo que ele é aviãozinho lá!

-       Para mãe, cê tá chapando!

Para Toddynho, aquela conversa bastava. Precisava ligar pro gerente para ver os preços das peças.

-       Bom de qualquer forma, Maurício num quero você encostando na banca c'um ele, ouviu?

Toddynho era o vulgo de Maurício, filho mais novo de dona Fátima que era diarista na semana e feirantes aos domingos na quebrada. Toddynho pegou a caminhada pro quarto; tirou a bombeta e o moletom e foi direto pro Banho.

Deu uns três dias, Toddynho desceu a favela rumo ao cemitério das naves. Precisava ir no corre rapidão, decidiu pegar atalho pela lojinha do Juninho. Foi pelo escadão. Pegando o escadão Toddynho começava a transpirar, o Sol pairava sobre seu rosto, enquanto colocava um prego na havaiana. Parou para descansar, quanto em um relance, escuta um disparo. Nessa hora, sai correndo o escadão. O menor desceu bolado. Nessa altura só tinha que correr. Quando que na sua frente, vem subindo no escadão dois PM, Toddynho já deu um quebrão. escadão, tiroteio e um garoto negro, esse filme já era conhecido, Toddynho já tinha ganhado essa, odeia finais com tragédia; num vale apena arriscar.

A caçada no ar e a de Todinho acabara de começar:

-       Vai! Mão na cabeça neguinho.

-       Não Senhor. Sou inocente!

-       Num quero saber, vai, deita no chão macaco!

Nessa hora, sobre o medo de morrer a vontade de viver Toddynho escuta dois disparo e um cadáver deitado:

-       Vai ficar panguando viadu. Sai dai caraio.

No alto, entre o Sol e o varal em cima da laje Diguinho intocado. Mando um zap:

-       A quebrada ta moiada, avisa geral para recolher!

-       Pode pá, Diguinho!

O recado já tinha sido mandado pro irmão que deu o aval pro toque de recolher. A favela tava em alerta e quem fica na rua, iria provar dessa guerra.

-       Viadu, cê me salvou cuzão!

-       Ta suave meu parceiro, só num fica panguando, tendeu?

-       Tendeu, mais viadu, a quebrada ta moiada.

-       To ligado jão, tava vendo na TV, o presidente loto de poliça na rua.

-       Vish, mó fita pro comércio.

-       Então, só que nessa crise tá foda trampo, queria um qualquer pra encostar no bailão.

-       Viadu, nem isso ta dando.

-       Merma fita viadu, o esquema mermo é fazer sumir as motos, fica na lojinha ta custando a vida.

-       Quanto vale a vida?

-       Num sei, me diga seu preço!

Toddynho tava no cemitério tirando as peças, enquanto fuma um de quebra. Pensamentos a mil e as neuroses aparecendo. Num teria tempo, o tempo que tem era pra desmontar a nave e levar as peças. No meio do desmanche Toddynho atende o celular:

-       To com o cliente na linha, tá querendo um guidou de XT. Qual é o seu preço pelo quidou?

-       Na merma daquele esquema

-       Tendeu!

-       Pode pá, logo mais tá na mão.

Toddynho colocou a o gascan na cabeça e pegou a caminhada, de repente recebe um torpedo no celular sobre a localização para levar a peça, naquele instante ele estava próximo da lojinha do Gigante, Diguinho aparece com um 38 na mão e o celular toca é ligação da Clara:

-       Amor tenho que te contar uma brisa.

-       Fala Preta!

-       Vem que eu te mostro.

-       Firmeza, vou deixar os bagulhos e já passo na sua goma.

Clara parecia emocionada, mas seu tom muda e ela pergunta:

-       Qui bagulhos?

-       Uns trampos aí, nada demais.

-       Sei!

-       To indo lá, já já nóis se vê e se conta sua novidade!

-       Tudo bem amor!

As emoções tomavam o tempo de Toddynho, seu tempo não era seu; deveria resolver esse trampo. Clara fechava de cotas com Todinho, desde os trezes anos os dois já trocavam linguagem e agora, pra mais uma preocupação a novidade afligia Toddynho, que acabara de subir no buzão pro Centro.

Passou uma hora, o cochilo de Toddynho atraiam os olhos do público; roncava desesperadamente. Acordou no susto, estava próximo ao Anhangabaú, desceu e entrou na loja Autopeças Casa das Motos:

-       Salve parça, to com o guidou da XT.

-       Não mostra aqui, cê pode moiar o meu trampo. Vem vamo na minha sala.

O gerente soltou os peixe na mão do Toddynho, quando no momento recebe uma ligação e pede pra esperar:

-       O cliente perguntou o preço da peça. Qual o seu preço?

-       O valor que nois acertou já tá bom.

Toddynho, no meio da ligação escuta o gerente falar de um nome; Marcos Vinícius Saloto. Saloto era um jornalista que tinha seu próprio canal na emissora. Faziam o quadro da Polícia 24 horas.

Acabara a ligação e Toddynho pergunta:

-       Cê tá falando com o jornalista Marcos Saloto?

-       Ele mesmo.

-       Mo comedia esse truta, sensacionalista.

Chegando na quebrada, antes de passar na goma do Diguinho, Todynho passou na muié:

-       Então Preta, qual é a boa qui vai me contar!

Nesse instante, Clara pega uma caixa e entrega na mão de Toddynho. Toddynho abre e vê uma blusa vermelha de bebé, logo vem a reação:

-       Num acredito. Viadu, vou ser pai!

-       Sim, nosso bebé logo mais vai tá aí com a gente.

Toddynho solta a caixa e puxa Clara pra perto, nesse momento os dois se beijam e nas seus olhos a vida se anunciava. Uma esperança, um novo caminho de sonhos, parecia ser uma luz, e a luz desse casal; uma criança.

Para Todynho, saber que vai ser pai era uma dádiva, uma possibilidade de sonhar acordado, porém a alegria não dura, tão pouco o dinheiro, e agora precisava de dinheiro mais do que nunca. As emoções não perdurará, a dúvida deu lugar a certeza.

-       Salve Viadu, tudo nos conformes?

-       Pode pá, tudo nos conformes!

Diguinho subiu na garupa da 160 e Toddynho deu marcha. Pararam em um posto de gasolina e abasteceram:

-       Qual o preço?

-       Enche o tanque

Siaram queimando pneu, sentido a M'boi mirim. Cortaram pro estacionamento do shopping Fiesta, renderam:

-       Vai véinho, é um assalto!

O cara rendido, Diguinho desceu da moto e colocou a peça na cabeça do mano. Subiu na 300, derrepente aparece o Polícia civil e dá um disparo. Diguinho sai cantando pneu enquanto Toddynho sai cortando a M'boi, e o poliça atrás na bota. Diguinho vai pelo Santo Antônio e Toddynho pelo Santa Lúcia, os dois na função. Dinheiro e o bebé, era o que Toddynho pensava durante aquela fulga; acelera sem pensar no freio.

Chegando na quebrada, Diguinho intoca a nave, já nesse momento, já tinha desmanchado a nave e estava aprocura deToddynho, decidiu ir na goma da Clara:

-       Toddynho num tá ai?

-       Tá não. Pergunta pra mãe dele.

-       Verdade, vou fazer isso. Firmeza!

Diguinho bate na porta, Dona Fátima atende:

-       Toddynho tá ai?

-       Tá não!

-       Espera aí, já ele chega!

-       Firmeza

Sentado no sofá espera Diguinho pela presença de Toddynho, enquanto o café da Dona Fátima deixa o cheiro em toda a sala. Na espera, Diguinho recebe um áudio:

-       To precisando de umas peças de trezentas.

Diguinho digita, enquanto espera o café:

-       Qual peça?

-       Um escapamento.

-       Firmeza, nois arruma.

-       Qual o preço?

-       Vou dar um salve no Toddynho e já te retorno.

-       Firmeza!

Diguinho começa a digitar para Toddynho, no momento em que o mesmo olha pro noticiário:

-       Cê gosta do programa do Marcos Soleto?

-       Gosto de notícias.

-       Tendeu! Ta passando uma fulga que terminou com a morte do motociclista.

-       Cadê!

Dona Fátima passa na sala com duas xícaras e se senta, quando prestando bem atenção Diguinho exclama em voz alta:

-       É a moto do Toddynho!

A xícara cai, lágrimas rola e Dona Fátima desmaia, Diguinho olha o celular e com os olhos se enchendo vê a mensagem:

-       Qual é o preço?


[1] Acadêmico da 5ª fase do curso de Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal da Fronteira Sul campus – Erechim (UFFS) e bolsista FNDE pelo Grupo Práxis – PET Conexões de Saberes. E-mail: andreluisliralemos@gmail.com
 


Comentários

  1. VL, um dos maiores escritores que já li em minha vida. Diamante. Progresso irmão, vai longe escrevendo a realidade sem viver de fantasia.

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